sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Centro Espirita (Continuação)

1- Função e Significação
O Centro Espírita não é templo nem laboratório – é para usarmos a expressão espírita de Victor Hugo: point d’optique do movimento doutrinário, ou seja, o seu ponto visual de convergência. Podemos figurá-lo como um espelho côncavo em que todas as actividades doutrinárias se reflectem e se unem, projectando-se conjugadas no plano social geral, espírita e não espírita. Por isso mesmo a sua importância, como síntese natural da dialética espírita, é fundamental para o desenvolvimento seguro da Doutrina e suas práticas. Kardec avaliou a sua importância significativa no plano da divulgação e da orientação dos Grupos, explicando ser preferível a existência de vários Centros pequenos e modestos numa cidade ou num bairro, à existência de um único Centro grande e sunptuoso.
Um Centro Espírita pequeno e modesto – como na maioria o são – atrai as pessoas realmente interessadas no conhecimento doutrinário, cria um ambiente de fraternidade activa em que as discriminações sociais e culturais desaparecem no entrelaçamento de todos os seus componentes, considerados como colaboradores necessários de uma obra única e concreta. O ideal é o Centro funcionar em sede própria, para maior e mais livre desenvolvimento de seus trabalhos, mas enquanto isso não for possível, pode funcionar com eficiência numa sala cedida ou alugada, numa garagem vazia ou mesmo numa dependência de casa familiar. As objecções contra isso só podem valer quando se trate de casas em que existam motivos impeditivos materiais ou morais.
Muitos Centros Espíritas surgiram do desenvolvimento de grupos familiais, desligando-se mais tarde da residência em que formara. A alegação de que a casa fica infestada ou coisas semelhantes é contraditada pela experiência. Um trabalho de amor ao próximo, feito com sinceridade e intenções elevadas, conta com a protecção dos Espíritos benevolentes e a própria defesa de suas boas intenções. Os Centros oriundos de grupos familiares mostram-se mais coesos e mais abertos conservando a seiva fraterna de sua origem. É esse o clima de que necessitam os trabalhos doutrinários.
Organizado o Centro, com uma denominação simples e afectiva, com o nome de um Espírito amigo ou de uma figura espírita abnegada, de pessoa já desencarnada, preparados, aprovados em assembléia geral e registrados em estatutos, a sua função e significação estão definidas como estudo e prática da Doutrina, divulgação e orientação dos interessados, serviço assistencial aos espíritos sofredores e às pessoas perturbadas, sempre segundo a Codificação de Allan Kardec. Sem Kardec não há Espiritismo, há apenas mediunismo desorientado, formas do sincretismo religioso afro-brasileiro, confusões determinadas por teorias pessoais de pretensos mestres.
Dirigentes, auxiliares e frequentadores de um Centro Espírita bem organizado sabem que a obra de Kardec é um monumento científico, filosófico e religioso de estrutura dinâmica, não estática, mas cujo desenvolvimento exige estudos e pesquisas do maior rigor metodológico, realizadas com humanidade, bom-senso, respeito à Doutrina e condições culturais superiores. Opiniões pessoais, palpites de pessoas pretensiosas, livros mediúnicos ou não de conteúdo mistificador, cheios de absurdos ridículos – seja o autor quem for – não têm nenhum valor para um verdadeiro Centro Espírita.
Cada Centro Espírita tem os seus protetores e guias espirituais que comprovam a sua autenticidade pelos serviços prestados, pelas manifestações oportunas e cautelosas, pela dedicação aos princípios kardecianos. A autoridade moral e cultural dos dirigentes e dos espíritos protectores e guias de médiuns e trabalhos decorre da integração dos mesmos na orientação de Kardec. O Centro que se esquece disso cai fatalmente em situações negativas, adoptando práticas anti-espíritas e enveredando pelo caminho da traição a Kardec e ao Espírito da verdade. As consequências dessa falência são altamente prejudiciais a todo movimento espírita. Não se trata de nenhum problema sobrenatural, mas simplesmente de falta de vigilância – principalmente contra o orgulho e a vaidade, que levam muitas pessoas a quererem evidenciar-se mais do que outras. Isso acontece também em todos os campos da actividade humana, nos quais encontramos cientistas pretensiosos e sistemáticos, negociantes fraudulentos, médicos apegados às suas ideias próprias. A pretensão humana não tem limites e cada indivíduo pretensioso está sempre assessorado por entidades mistificadoras.
A Ciência Espírita é um organismo vivo, de natureza conceptual, estruturada em leis psicológicas, ou seja, em princípios espirituais e racionais. Essa estrutura é íntegra, perfeita, harmoniosa, e não podemos violentar um só dos seus princípios sem por em perigo imediato todo o seu sistema. No Centro Espírita em que essa compreensão da doutrina não se desenvolve, na verdade não existe Espiritismo, mas apenas um vago desejo de atingi-lo. As raízes dessa estrutura conceptual estão no Cristianismo, não em seu aspecto formal-igrejeiro, mas em sua existência evangélica, definida da Codificação Kardeciana. Os evangelhos canónicos das Igrejas Cristãs estão carregados de elementos da Era Mitológica e superstições judaicas. São esses elementos do passado pagão-judeu que deformaram o ensino puro de Jesus, permitindo interpretações flagrantemente contrárias ao que Jesus ensinou e exemplificou. No livro “O Evangelho Segundo o Espiritismo” e no livro “A Gênese” Kardec mostrou como podemos restabelecer a pureza das raízes evangélicas, usando a pesquisa histórica das origens cristãs, o método analítico-positivo de estudo histórico e o método lógico comparativo dos textos. Sem a pureza das raízes não teremos a pureza dos textos e cairemos facilmente nas trapaças ou nas ilusões dos mistificadores encarnados e desencarnados.
Nas primeiras comunidades cristãs, onde o culto pneumático era praticado, manifestavam-se espíritos furiosos, defensores de suas crenças antigas, que injuriavam o Cristo e seus adeptos. O culto constituía a parte prática do ensino espírita de Jesus. Na I Epístola aos Coríntios o Apóstolo Paulo dá instruções à comunidade de Corinto sobre a realização desse culto, ensinando até mesmo como os médiuns (então chamados profetas) se deviam comportar na reunião. Os Espíritos manifestavam-se pelos médiuns e eram doutrinados pelos participantes do culto. Esse trecho expressivo encontra-se no tópico da epístola que trata dos Dons Espirituais. Não obstante, as Igrejas Cristãs deram uma interpretação inadequada e absurda a esse trecho, como fizeram com todos os trechos do Evangelho em que Jesus se refere à reencarnação. Incapazes de doutrinar os espíritos mistificadores ou agressivos, que atacavam Jesus e a sua missão, os que se ligaram ao Império Romano suprimiram o culto pneumático, alegando que as entidades que neles se manifestavam eram diabólicas. Essa a razão porque Igrejas Cristãs repelem até hoje o Espiritismo como prática diabólica, rejeitando as manifestações espíritas.
Num Centro Espírita bem organizado esses problemas são estudados e ensinados, para que as pessoas interessadas no ensino real do Cristo possam compreender o sentido do Espiritismo. Sem isso, o Centro Espírita deixa de cumprir a sua missão na grande obra de restauração do Cristianismo em espírito e verdade. O que o Espiritismo busca é a verdade cristã, cumprindo na Terra a promessa de Jesus, que através de Kardec e seu guia Espiritual, o Espírito Superior que deu a Kardec, quando este lhe perguntou quem era, esta resposta simples: “Para você, eu sou A Verdade”. O Centro Espírita significa, assim, uma fortaleza espiritual da grande batalha para o restabelecimento da verdade cristã na Terra. Mas tudo isso deve ser encarado de maneira racional e não mística, no Centro Espírita. Ninguém está ali investido de prerrogativas divinas, mas apenas de obrigações humanas.
José Herculano Pires in O Centro Espirita
A expressão culto pneumático vem do grego, pois “pneuma” quer dizer espírito.

Centro Espirita

Introdução
Se os espíritas soubessem o que é o Centro Espírita, quais são realmente a sua função e a sua significação, o Espiritismo seria hoje o mais importante movimento cultural e espiritual da Terra. Temos no Brasil – e isso é um consenso universal – o maior, mais activo e produtivo movimento espírita do planeta. A expansão do Espiritismo em nossa terra é incessante e prossegue em ritmo acelerado. Mas o que fazemos, em todo este vasto continente espírita, é um imenso esforço de igrejificar o Espiritismo, de emparelhá-lo com as religiões decadentes e ultrapassadas, formando por toda parte núcleos místicos e, portanto, fanáticos, desligados da realidade imediata.
Dizia o Dr. Souza Ribeiro, de Campinas, nos últimos tempos de sua vida de lutas espíritas: “Não compareço a reuniões de espíritas rezadores!” E tinha razão, porque nessas reuniões ele só encontrava turba dos pedintes, suplicando ao Céu ajuda.
Ninguém estava ali para aprender a Doutrina, para romper a malha de teia de aranha do igrejismo piedoso e choramingas. A domesticação católica e protestante criara em nossa gente uma mentalidade de rebanho. O Centro Espírita tornou-se uma espécie de sacristia leiga em que padres e madres ignorantes indicavam aos pedintes o caminho do Céu. A caridade esmoler, fácil e barata, substituiu as gordas e faustosas doações à Igreja. Deus barateara a entrada do Céu, e até mesmo os intelectuais que se aproximam do Espiritismo e que têm o senso crítico, se transformam em penitentes. Associações espíritas, promissoramente organizadas, logo se transformam em grupos de rezadores pedinchões. O carimbo da igreja marcou fundo a nossa mentalidade em penúria. Mais do que subnutrição do povo, com seu cortejo trágico de endemias devastadoras, o igrejismo salvacionista depauperou a inteligência popular, com o seu cortejo de carreirismo político-religioso, idolatria mediúnica, misticismo larvar, e o que é pior, aparecimento de uma classe dirigente de supostos missionários e mestres farisaicos, estufados de vaidade e arrogância. São os guardiães dos apriscos do templo, instruídos para rejeitar os animais sacrificiais impuros, exigindo dos beatos a compra de oferendas puras nos apriscos sacerdotais.
Essa tendência mística popular, carregada de superstições seculares, favorece a proliferação de pregadores santificados, padres vieiras sem estalo, tribunos de voz empostada e gesticulação ensaiada. Toda essa carga morta esmaga o nosso movimento doutrinário e abre as suas portas para a infestação do sincretismo religioso afro-brasileiro, em que os deuses ingénuos da selva africana e das nossas selvas superam e absorvem os antigos e cansados deus cristãos. Não no clima para o desenvolvimento da Cultura Espírita.
As grandes instituições Espíritas Brasileiras e as Federações Estaduais investem-se por vontade própria de autoridade que não possuem nem podem possuir, marcadas que estão por desvios doutrinários graves, como no caso do roustainguismo da FEB e das pretensões retrógradas de grupelhos ignorantes de adulterados. Teve razões de sobra André Dumas, do Espiritismo Francês, em denunciar recentemente, em entrevista à revista Manchete, a situação católica e na verdade de anti-espírita do Movimento Espírita brasileiro. A domesticação clerical dos espíritas ameaça desfibrar todo o nosso povo, que por sua formação igrejeira tende a um tipo de alienação esquizofrênica que o Espiritismo sempre combateu, desde a proclamação de fé racional sempre no Kardec, contra a fé cega e incoerente, submissa e farisaica das pregações igrejeiras.
Jesus ensinou a orar e vigiar, recomendou o amor e a bondade, pregou a humanidade, mas jamais aconselhou a viver de orações e lamúrias, santidade fingida, disfarçada em vãs aparências de humildade, que são sempre desmentidas pelas ambições e a arrogância incontroláveis do homem terreno. Para restabelecemos a verdade espírita entre nós e reconduzirmos o nosso movimento a uma posição doutrinária digna e coerente, é preciso compreender que a Doutrina Espírita é um chamado viril à dignidade humana, à consciência do homem para deveres e compromissos no plano social e no plano espiritual, ambos conjugados em face das exigências da lei superior da Evolução Humana. Só nos aproximaremos da Angelitude, o plano superior da Espiritualidade, depois de nos havermos tornado Homens.
Os espíritas actuais, na sua maioria, tanto no Brasil como no mundo, não compreenderam ainda que estão num ponto intermediário da filogénese da divindade. Superando os reinos inferiores da Natureza, segundo o esquema poético de Léon Denis, na sequência divinamente fatal de Kardec: mineral, vegetal, animal e homem, temos o ponto neutro de gravidade entre duas esferas celestes, e esse ponto é o que chamamos ESPÍRITA. As visões fragmentárias da Realidade fundem-se dialecticamente na concepção monista preparada pelo monoteísmo. Liberto, no ponto neutro, da poderosa reação da Terra, o espírita está em condições de se elevar ao plano angélico. Mas estar em condições é uma coisa, e dar esse passo para a divindade é outra coisa. Isso depende do grau de sua compreensão doutrinária e da sua vontade real e profunda, que afecta toda a sua estrutura individual. Por isso mesmo, surge então o perigo da estagnação no misticismo, plano ilusório da falsa divindade, que produz as almas viajantes de Plotino, que nada mais são do que os espíritos errantes de Kardec. Essas almas se projectam no plano da Angelitude, mas não conseguem permanecer nele, cedendo de novo a atracção terrena da encarnação. Muitas vezes repetem a tentativa, permanecendo errantes entre as hipóstases do Céu e da Terra. Plotino viu essa realidade na intuição filosófica e na vidência platónica. Mas Kardec a verificou nas suas pesquisas espíritas, escudadas na observação racional dos factos. Apoiados na Razão, essa bússola do Real, ele nos livrava dos psicotrópicos do misticismo, oferecendo-nos a verdade exacta da Doutrina Espírita. Nela temos a orientação precisa e segura dos planos ou hipóstases superiores, sem o perigo dos ciclos muitas vezes repetidos do chamado Círculo Vicioso das Reencarnações, que os ignorantes pretendem opor à realidade incontestável da reencarnação. Pois se existe esse círculo vicioso, é isso bastante para provar o processo reencarnatório. O vício não está no processo, mas na precipitação dos homens e dos espíritos não devidamente amadurecidos, que tentam forçar a Porta do Céu.
Se no Brasil sofremos os prejuízos dos religiosismo ingénuo de nossa formação cultural, na França e nos demais países europeus – segundo as próprias declarações de André Dumas – o prejuízo provém de um cientificismo pretensioso, que despreza a tradição francesa da pesquisa científica espírita, procurando substituí-la pelas pesquisas e interpretações parapsicológicas. Esse menosprezo pedante pelo trabalho modelar de Kardec levou o próprio Dumas a desrespeitar a tradição secular da Revue Spirite, transformando-a num simulacro da revista científica do Ano 2.000. As pesquisa da parapsicologia seguiram o esquema de Kardec e foram cobrindo no tempo, sucessivamente, todas as conquistas do sábio francês. Pegada por pegada, Rhine e seus companheiros cobriram o rastro científico de Kardec. O mesmo já acontecera com Richet na metapsíquica, com Crookes e Zollner e todos os demais.
Toda a pesquisa psíquica honesta é válida, nesse campo, até mesmo a dos materialistas russos actuais ficaram presas ao esquema de Kardec, o que prova a validade irrevogável desta. Começando pela observação dos fenómenos físicos, todas as Ciências Psíquicas, nascidas do Espiritismo, fizeram a trajectória fatal traçada pelo génio de Kardec e chegaram às suas mesmas conclusões. As discordâncias interpretativas foram sempre marcadas indelevelmente pelos preconceitos e as precipitações da advertência de Descartes no Discurso do Método e pela sujeição aos interesses das Igrejas, como Kardec já assinalara em seu tempo. A questão da terminologia é puramente supérflua e, como dissera Kardec, serve apenas para provar a leviandade do espírito humano, mesmo dos sábios, sempre mais apegado à forma que ao fundo do problema.
No Espiritismo o quadro fenoménico foi dividido por Kardec em duas seções: Fenómenos Físicos e Fenómenos Inteligentes. Na Metapsíquica, Richet apresentou o esquema de Metapsíquica objectiva e Metapsíquica subjectiva. Na Parapsicologia os fenómenos espíritas passaram a chamar-se Fenómeno Psi, com divisão de Psicapa (objectivos) e Psigama (subjetivos). Quanto aos métodos de pesquisa, Crookes e Richet ativeram-se à metodologia científica da época, e Rhine limitou-se a passar dos métodos qualitativos para os quantitativos, inventando aparelhagens apropriadas aos processos tecnológicos actuais, apelando à estatística como forma de controle e comprovação dos resultados, o que simplesmente corresponde às exigências actuais nas Ciências. Kardec teve a vantagem de haver acentuado enfaticamente a necessidade de adequação do método ao objecto específico da pesquisa. O próprio método hipnótico de regressão da memória, para as pesquisas da reencarnação aplicado por Albert DeRochas do século passado, foi aproveitado pelo Prof. Vladimir Raikov. Na Roménia, o preconceito quanto ao Espiritismo gerou uma nova denominação para Parapsicologia: Psicotrónica. Com esse nome rebarbativo, os materialistas romenos pretendem exorcizar os perigos de renascimento espírita em seu país.
Todos esses factos nos mostram que a Doutrina Espírita não chegou ainda a ser conhecida pelos seus próprios adeptos em todo o mundo. Integrado no processo doutrinário de trabalho e desenvolvimento, o Centro Espírita carecia até agora de um estudo sobre as suas origens, o seu sentido e a sua significação no panorama cultural do nosso tempo. É o que procuramos fazer neste volume, com as nossas deficiências, mas na esperança de que outros estudiosos procurem completar o nosso esforço. Lembrando o Apóstolo Paulo, podemos dizer que os espíritas estão no momento exacto em que precisam desmamar das cabras celestes para se alimentarem de alimentos sólidos. Os que desejam actualizar a Doutrina, devem antes cuidar de se actualizarem nela.
José Herculano Pires In Centro Espirita

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Nuanças Mediúnicas

Obs: acerca das comunicações em outras línguas, sobretudo.

Por muito tempo, dúvidas haviam da realidade das comunicações espirituais. Compreende-se, perfeitamente, que os investigadores pouco lastreados, em suas próprias mensurações, colhessem resultados pouco animadores para não dizermos duvidosos.

As comunicações mediúnicas realizam-se em faixas subjetivas, deixando o nosso terreno intelectivo analítico, de bases objetivas, como sem possibilidades de avaliações. Partindo dessa premissa, as análises das comunicações só poderão ser feitas por indivíduos que possuam vivências no campo psicológico e, principalmente, nos denominados parapsicológicos.

É preciso registrar que as comunicações mediúnicas, de toda natureza, inclusive as realizadas com médiuns exercitados, bem traduzem o conteúdo das mensagens, porém, sempre carregando as "tinturas" do médium ou aparelho receptor.
Isto quer dizer que o Espírito comunicante, ao "refletir-se" no médium, utiliza o que o mesmo possui: se é um médium de arcabouço psicológico evoluído encontrará boas condições para exteriorizar seu pensamento; se o médium apresenta, pelo seu dia-a-dia, pouca evolução, traduzida em reduzidas condições psicológicas, é claro que o comunicante não encontrará elementos específicos a fim de expressar a desejada mensagem.

Tudo isso é bem claro como regra geral, porquanto, em casos especiais, a lógica nos faz pensar que a influência espiritual será de tal ordem, a ponto de suplantar muitas deficiências no médium que não possua certas condições. Os requisitos evolutivos dos médiuns não podem ser analisados e avaliados diante do seu atual arcabouço psicológico, porquanto, muitos deles se encontram em singelas reencarnações intelectuais, embora, possuindo um rico e experiente pretérito. Na recíproca dessas propostas poderemos ter outros tantos ângulos de avaliações. Assim, não será fácil aos avaliadores pouco afeitos a essas pesquisas, compreenderem muitos dos fatos como das inusitadas angulações da mecânica mediúnica.

Através de mais de três décadas de observações pelos campos da mediunidade, acolitado por informações espirituais de variados matizes, concluímos que o Espírito comunicante, nas denominadas incorporações mediúnicas, emite a mensagem com valores de seu pensamento, incluindo o idioma que melhor manipula. Toda essa carga psicológica será como que incrustada, após a aceitação pelo médium, nas malhas vibratórias da zona perispiritual do receptor. Por este modo, haveria um encontro de vibrações entre a vontade-apelo do Espírito e a vontade-resposta do médium, devido a sua vontade-aceitação.

O perispírito do médium, inundado pelas emissões do perispírito da Entidade comunicante, absorve essas correntes superiores de pensamento ( comunicações harmônicas ) com toda a carga que se acham investidas. Desse modo, o perispírito do receptor enriquece-se do referido material e passa a manter a corrente, que sempre existe nos indivíduos, em direção às células físicas. Nestes casos específicos, o perispírito traz, além do que é realmente do espírito do médium, os elementos enxertados pelo perispírito da Entidade comunicante, transferindo toda essa carga para a zona física. O médium adestrado na vivência mediúnica, acaba compreendendo o que é seu e o que é do Espírito comunicante, nos casos da chamada mediunidade consciente. No caso da mediunidade semiconsciente ou inconsciente a distinção torna-se mais difícil.

Realmente, será na zona de transição entre o perispírito e a matéria que esses delicados mecanismos espirituais se expressam. As correntes perispirituais, à medida que se aproximam da zona física, vão modificando o teor de suas energias especificas, possibilitando, nestas transformações, os adequados símbolos que as células nervosas ou neurônios tenham condições de entender e expressar os pensamentos captados. Nesta transmutação, a tela neuronial traduzirá, de acordo com as condições, a carga que o perispírito, já enriquecido pela mensagem, carrega.

Anote-se, como de importância, que a zona perispiritual do médium será a região que manipulará o pensamento do comunicante. Se a comunicação é fornecida por um Espírito que utilizou idioma desconhecido pelo médium, nesta região dar-se-ia a transmutação de linguagem, que será tanto mais ajustada e especifica se o médium possuir experiências pregressas naquele idioma, mesmo desconhecendo no momento presente a língua em pauta.

Tudo isso quer dizer que o delicado mecanismo mediúnico será realizado de modo a que a zona consciente do médium não intervenha; isto é, seria um processo apropriado e manipulado pelos campos internos do psiquismo ( zona espiritual ou inconsciente), onde a zona consciente não possui interferência direta. Pela natural e acertada vontade de realização do fenômeno pelo médium, haveria aberturas e facilidades de passagem da carga mensageira pelos campos terminais do psiquismo, onde as expressões conscientes se mostram na estrutura intelectual.

André Luiz, no livro Evolução em Dois Mundos, a respeito da linguagem dos desencarnados, nos fornece os seguintes dados: "Incontestavelmente, a linguagem do Espírito é, acima de tudo, a imagem que exterioriza de si próprio.

"Isso ocorre mesmo no plano físico, em que alguém, sabendo refletir-se, necessitará de poucas palavras para definir a largueza de seus planos e sentimentos, acomodando-se à síntese que lhe angaria maior cabedal de tempo e influência.

"Espíritos desencarnados, em muitos casos, quando controlam as personalidades mediúnicas que lhes oferecem sintonia, operam sobre elas a base das imagens positivas com que as envolvem no transe, compelindo-as a lhes expressar os conceitos.

"Nessas circunstâncias, expressa-se a mensagem pelo sistema de reflexão, em que o médium, embora guardando o córtex encefálico anestesiado por ação magnética do comunicante, lhe recebe os ideogramas e os transmite com as palavras que lhe são próprias."

Até o momento ainda desconhecemos os detalhes desta complexa estruturação que é o fenômeno mediúnico. A fim de compreendermos como o processo se deve dar, é que fizemos a descrição acima, em síntese, como hipótese de entendimento. Este mecanismo estará amparado não só em observações e convivência do fenômeno, como também, pelas informações espirituais criteriosas, apesar de quase sempre reduzidas, coisa de fácil compreensão. Consideremos, também, como de valor, na avaliação da fenomenologia em pauta, as pesquisas realizadas com as regressões de memória.

O nosso trabalho sobre regressão de memória, auxiliado pela hipnose, forneceu bom material para ilações neste campo. Anotamos que alguns daqueles que participam das regressões de memória, em recordando determinada etapa reencarnatória pretérita, falava a língua da época; em raros casos registramos algum arrastado sotaque, devendo-se, esta condição, a atual tela consciente, onde os dados pretéritos tinham dificuldades de se mostrarem integrais em sua origem.Joeirand-se estes pequenos e reduzidos fatores, as forças internas do regredido, isto é, seu bloco energético anímico, mostrava grande parte do passado pelas aberturas que a hipnose determinou na zona consciente.

Trazendo esses fatores para o setor mediúnico, onde, como vimos, existem manipulações das zonas perispirituais em ação - emissor e receptor, Espírito comunicante e médium - vê-se quanto o aparelho receptor elabora elementos para bem traduzir o que o emissor ( Espírito) deseja.

As coisas passam a mostrar maior complexidade, quando o pensamento do comunicante se faz em idioma diferente daquele que o médium está manipulando no seu dia-a-dia de encarnado.

Haverá, assim, nos arcanos do Espírito, zonas e campos onde o pensamento é um só e, à medida que esse bloco de energias vai ganhando a periferia do psiquismo ou zona consciente, vai existindo a necessidade da palavra e organização de frases para a expressão do pensamento. Quanto mais para o psiquismo de profundidade ou zona espiritual o pensamento será como que purificado e representando um único matiz; isto é, o bloco de energias se faz presente e, vibratoriamente, elabora a percepção sem a necessidade da palavra. Quanto mais perto do psiquismo de superfície ou zona material ( zona consciente), mais haverá necessidade das expressões perceptivas de um idioma.

Todas as frases de uma determinada língua possuem a carga de sua própria emoção, na dependência de quem está fazendo a emissão. É como se as palavras tivessem um sustentáculo energético do pensamento elaborado. Assim, as palavras seriam símbolos elaborados, entre a zona espiritual e perispiritual, com finalidade de utilização pela zona consciente, onde se refletem e se mostram. À medida que o ser vai evoluindo, todos esses símbolos, estribados nos variados idiomas e arrecadados nas diversas etapas reencarnatórias, se vão como que ajustando e buscando pontos comuns até se refletirem num idioma universal.

Revista "Presença Espírita".
Jorge Ândrea dos Santos

terça-feira, 3 de junho de 2008

Evangelho no Lar

1. Escolha o dia de sua preferência. Sugerimos um dia de fácil memorização, como, por exemplo, segunda ou sexta-feira.
2. Escolha um aposento silencioso e agradável da casa, de preferência a sala de jantar, e que esteja com os aparelhos eletro-eletrônicos desligados.
3. Coloque uma jarra com água sobre a mesa, para fins de fluidificação. Na falta dessa podem ser utilizados copos, qualquer um, em número correspondente aos integrantes do Evangelho.
4. Sentar-se à mesa sem alarde e sem barulho.
5. Fazer a prece de abertura, a que toque mais fundamente o sentimento familiar. Pode ser uma prece pronta ou uma prece espontânea, o importante é, repetimos, o sentimento da fé e a confiança na Proteção Divina.
6. Após, fazer uma leitura breve de O Evangelho Segundo o Espiritismo. Comentar com palavras próprias o trecho lido. No início poderá existir certa timidez mas, com o correr do tempo, os comentários surgirão espontaneamente pois que os Espíritos amigos estarão auxiliando na compreensão dos textos selecionados.
7. Os demais integrantes poderão tecer comentários também, caso o desejem, mesmo que estes levem a assuntos pessoais e/ou a diálogos, naturalmente que sempre pertinentes ao tema em foco. O Evangelho no Lar é antes de tudo uma reunião de Espíritos reencarnados no mesmo ambiente, buscando através da prece, da elevação de pensamentos e do diálogo fraterno, o amparo e o auxílio do Mais Alto para seus problemas e necessidades. Não deve ser jamais solene ou ritualístico, com palavras e movimentos decorados a lembrar missas e demais cultos.
8. Para incentivar a participação dos filhos ou demais membros, com exceção do pequeninos, é conveniente pedir que leiam mensagens espíritas, para reflexão do grupo. Incentivar também, com carinho, o comentário após a leitura. Sugerimos aqui mensagens de Emmanuel ou André Luiz, sempre claras e breves, porém de conteúdo precioso e oportuno.
9. Proferir a prece de encerramento e rogar, como exemplo, pela paz, harmonia, saúde e felicidade dos membros da reunião e de todos com os quais convivem. Desejando, rogar também pelos doentes, desamparados e infelizes da Terra. Por último, pedir a bênção de Deus para os familiares desencarnados, sem temor. A lembrança da prece alegra e pacifica os que partiram.
10. É completamente desaconselhável qualquer manifestação mediúnica durante o Evangelho no Lar.
11. Servir, após a prece de encerramento, a água fluidificada.
12. Tempo: o necessário para a família. Sugerimos uma reunião de 15 a 30 minutos. Música: sim, se for do agrado de todos. Sugerimos música instrumental, em volume baixo.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

ESPIRITISMO KARDECISTA: ANTECEDENTES DA CODIFICAÇÃO

Todos sabemos que os fenómenos espíritas datam desde os tempos mais antigos da antiguidade e encontram-se disseminados ao longo do tempo e no espaço.
Encontramos fenómenos espíritas tanto nos povos mais selvagens, quanto entre as culturas mais civilizadas e evoluídas, embora estes fenómenos tivessem uma presença mais acentuada em determinadas épocas, assumindo assim um carácter mais definido, como que prenunciando a eclosão de um novo ciclo para a humanidade.
Os fenómenos espíritas que foram acontecendo ou traços de interferência dos espíritos ocorridos desde o inicio da origem do homem, diferem dos antecedentes do espiritismo, dado que uns aconteceram como casos esporádicos, os antecedentes do espiritismo, denotam já se assim lhe podemos chamar “uma invasão espiritual organizada” com determinados objectivos bem definidos, preparando o advento da terceira revelação.
Geralmente a data que se costuma fixar como passo inicial da história do espiritismo, acontece na época das mesas girantes, na França, em simetria com os fenómenos ocorridos a partir de 31 de Março de 1848 em Hidesville, Rochester nos Estados Unidos, através das irmãs Fox.
Encontramos no entanto diversos precursores do Espiritismo, tais como:
Emmanuel Swedenborg
Edward Irving
Fenómenos das comunidades dos Shakers
Adrew Jackson Davis, entre outros.

Um dos pioneiros a anteceder a invasão dos espíritos no mundo físico em que vivemos, foi Emmanuel Swedenborg, médium vidente de grande potencialidade, ele apresentou uma teologia que mais não era do que a verdadeira antevisão dos princípios básicos da doutrina espírita.
Este médium possuía a chamada “vidência à distância” na qual a alma se afasta do corpo momentaneamente e vai buscar informações à distância, regressando com notícias do que ocorreu nesses lugares.
Ele afirmou a pluralidade dos mundos habitados e a inexistência de penas eternas. Para ele, anjos e demónios, eram simplesmente seres humanos que haviam vivido na Terra, respectivamente espíritos evoluídos e espíritos mais atrasados em processo de aprendizagem e evolução.
Edward Irving vive entre 1830 e 1833 uma experiência psíquica ele e os fieis da sua igreja escocesa.
Este pastor protestante, grande estudioso bíblico, desenvolveu num grupo fechado estudos que levam a manifestações internas, acontecendo fenómenos de verdadeira força psíquica actuando no mundo material.
Para além destes incidentes isolados na igreja de Irving, na mesma época surgem fenómenos espíritas nas comunidades dos shackers nos Estados Unidos. Os fenómenos iniciaram-se com os costumeiros sinais de aviso seguidos pela obsessão de quando em quando em toda a comunidade.
Os principais visitantes espirituais eram espíritos de peles vermelhas que vinham em grupo como uma tribo.
Surge então F.W. Evans que juntamente com os seus companheiros se dedica estudar esta perturbação física e mental causada pelos espíritos, chegando à conclusão inesperada de que os espíritos dos índios não tinham vindo ensinar, mas sim aprender.
Estas visitas acontecem durante sete anos, findos os quais os espíritos os deixaram, dizendo que iam, mas que voltariam, e que quando voltassem invadiriam o mundo nas choupanas, quanto nos palácios.
Em 1826, nasce Andrew Jackson Davis, portador de clarividência, que também ouvia vozes que lhe davam bons conselhos.
Ainda não tinha 20 anos quando escreveu um dos livros mais profundos e originais de filosofia produzidos até então, o que prova que não tinha vindo dele mesmo, mas sim que ele mais não era do que um canal, através do qual fluía o conhecimento daquele vasto reservatório espiritual.
As observações de Davis aos que se encontravam na sua presença, pois sua alma podia emancipar-se pela acção magnética.
Davis não se recordava do que via em transe, ficando no entanto tudo registado no seu subconsciente e mais tarde recordava com clareza.
No seu livro “Princípio da Natureza”, prevê o aparecimento do espiritismo como doutrina e prática mediúnica.
Numa casa humilde, alugada em 11 de Dezembro de 1847, vivia a família Fox, família protestante composta pelo casal Fox e suas três filhas menores.
Em 1848 foram surpreendidos por barulhos de arranhadelas, que se identificavam à medida que o tempo passava, as crianças assustavam-se de tal forma que não queriam dormir sozinhas.
Kate uma das crianças do casal, com apenas 11 anos, resolve em 31 de Março de 1848 desafiar o mistério, travando diálogo através de palmas. A cada palma de Kate era dada resposta com uma pancada correspondente. Kate pergunta então se as pancadas eram realizadas por um espírito, e se a resposta fosse afirmativa, deveriam ser dadas duas batidas, a resposta foi afirmativa.
A fim de que a comunicação possa ser mais rápida, decidem utilizar o alfabeto, conseguindo-se vir a descobrir que ali houvera um crime e provando-se a imortalidade da alma.
A publicidade que se formou em torno das irmãs Fox, tem também o mérito de despertar a atenção para o grande número de médiuns que começam então a sair do anonimato e a revelar as suas faculdades, estimulados pelos acontecimentos de Hydesville.
Acontece então assim de forma gradual a anunciada invasão dos espíritos, que se manifestavam em toda a parte pelos mais variados médiuns e nos mais diferentes locais.
Nos fins de 1850 os espíritos sugerem uma nova forma de se comunicarem, em substituição do moroso processo das pancadas. Estes factos apresentados aos olhos de pesquisadores honestos, sugeriam de forma inequívoca a existência do Espírito.
As respostas dos espíritos às questões frívolas dos participantes movidos apenas pela curiosidade do desconhecido, passaram a constituir motivo de grande interesse.
As mesas moviam-se em todos os sentidos, giravam vertiginosamente, ou se elevavam no ar alcançando o teto, produzindo os mais variados movimentos, daí em diante as mesas girantes passaram a constituir a grande atracção dos salões da sociedade parisiense, como se estes fenómenos fossem meros e simples passatempos.
Na realidade observamos aqui uma manifestação do alto, despertando consciências para a imortalidade da alma e para o recebimento do consolador, prometido por Jesus há muitos séculos e consubstanciado no espiritismo, que logo a seguir seria codificado, pois que chegados eram os tempos.
Surge então Hippolyte Léon Denizard Rivail que aos 50 anos era um nome respeitado em França, homem portador de inúmeras qualidades morais e intelectuais.
Grande estudioso dos fenómenos psíquicos, interessa-se de modo especial pelo estudo do magnetismo.
Já ouvira falar das mesas girantes e atribuiu estes fenómenos ao magnetismo impregnado nessas mesas, daí seus movimentos tendo conhecimento da existência de algo inteligente por detrás, admite então a hipótese da actuação do mundo espiritual, resolvendo então investigar a proveniência dos factos.
Assim, ano após ano o professor Rivail trabalha metodicamente na elaboração da codificação da doutrina espírita, adoptando então o nome de Allan Kardec.
Com a expansão da codificação espírita, os fenómenos mediúnicos deixam de despertar a mesma curiosidade de antes, voltando-se então a atenção para a necessidade de elevação moral, ultrapassando assim a fase inicial do fenómeno, abertos os caminhos deixados pelos precursores, iniciando-se então o capítulo moralizante, guiados pelos espíritos que assistem através das possibilidades tecnológicas, surge então através dos estudos sistemáticos desses fenómenos de batidas, das mesas girantes e da transcomunicação toda uma filosofia fundamentada nos princípios cristãos.
É então que Allan Kardec lança o Livro dos Espíritos, pilar fundamental da doutrina espírita, surgindo inicialmente com o nome de “Filosofia Espiritualista”, pelo que se torna emergente questionarmo-nos acerca de qual a relação entre Espiritismo e Espiritualismo e porque se apresenta como uma filosofia.
Ao codificar a Doutrina Espírita, Allan Kardec cria os vocábulos Espiritismo e Espírita, totalmente diferentes de espiritualismo e espiritual, a fim de existir uma maior clareza e precisão de conceitos.
Assim, convém frisarmos que devemos compreender por espiritualismo toda a doutrina filosófica, segundo a qual o espírito constitui a substância de toda a realidade, tendo por base a existência de Deus e da alma.
Espiritualismo, opõe-se ao materialismo, para o qual a única substância existente é a matéria. Neste aspecto o espiritismo identifica-se com espiritualismo, indo no entanto mais além, na medida em que acrescenta vários princípios básicos:
1º A possibilidade de comunicação com o mundo espiritual.
2º A pluralidade das existências;
3º Pré- Existência e imortalidade da alma
4º Justiça natural
5º Progresso infinito do espírito
Assim em síntese, o livro dos Espíritos, representa uma das fases do espiritualismo, contendo como especifidade a doutrina espírita.
Contudo, embora represente uma face do espiritualismo, cumpre-nos esclarecer que o espiritismo difere de toda e qualquer ramificação espiritualista religiosa, uma vez que não possui dogmas, fundamentando-se antes na razão e nos factos, pelo que a doutrina é considerada uma doutrina tríplice, já que se estrutura em Ciência, filosofia e Religião.
A doutrina espírita baseia-se no método experimental, organizando as ideias sistematicamente partindo sempre dos factos, dos fenómenos mediúnicos e das manifestações em geral, assim sendo, podemos considerar a doutrina espírita como sendo uma ciência.
Por outro lado, também podemos considerar a doutrina espírita como sendo uma filosofia, já que a sua temática abrange conhecimentos que estão para além da experiência sensível, tais como: A existência de Deus, os princípios constitutivos do Universo (causas Primárias), as leis morais, utilizando para tanto o método racional como instrumento seguro.
Podemos ainda compreender a doutrina espírita como sendo uma religião, uma vez em que o seu fim último consiste na restauração do evangelho e na prática dos princípios cristãos, não se valendo contudo de formalismos exteriores, de práticas sagradas, rituais ou técnicas colectivas, mas sim a busca da religiosidade na intimidade afectiva de cada um, partindo de uma atitude interior consciente.
Estes três aspectos encontram-se bem definidos na codificação de Allan Kardec, respectivamente em: “O Livro dos Espíritos”, “O Evangelho Segundo o Espiritismo” e em “O Livro dos Médiuns”
A doutrina espírita será sempre um campo de investigação humana nos seus aspectos científicos e filosóficos, no entanto no aspecto religioso, repousa a sua grandeza divina ao constituir a restauração do Evangelho de Jesus Cristo, estabelecendo a renovação definitiva do homem para a grandeza do seu imenso futuro espiritual.

Bibliografia:
ALLAN KARDEC- O Livro dos Espíritos – Introdução, itens I e VII
ARTHUR CONAN DOYLE- História do Espiritismo
ZEUS WANTUIL e FRANCISCO THIESEN – Allan Kardec
EMMANUEL- A Caminho da Luz
ALLAN KARDEC- A Génese Cap. I
ALLAN KARDEC- O que é Espiritismo

Face a este texto, tente responder às questões seguintes:
1º- Tente descrever os fenómenos dos Shackers e o ocorrido com a familia Fox.
2º- Qual a relação do fenómeno das mesas girantes com o advento da doutrina Espirita?
3º Qual a relação entre espiritismo e espiritualismo?
4º Sob que aspecto a doutrina espirita é uma ciência?

domingo, 4 de maio de 2008

O mundo espiritual

Esferas Espirituais
Consideram-se as esferas espirituais as diversas subdivisões vibratórias do Mundo dos Espíritos. Estas estão para a vida extra- física assim como os continentes e os países estão para o mundo físico.
Os antigos já aceitavam a ideia da existência de muitos céus sobre- postos, de matéria sólida e transparente, formando esferas concêntricas e tendo a Terra como centro.
Essa ideia, que foi a de todas as teogonias, faziam do céu os diversos degraus da bem aventurança; o último deles era abrigo da suprema felicidade.
Segundo a opinião mais comum, existiam sete céus, daí a expressão tão comum de “estar no sétimo céu” - para exprimir a perfeita felicidade. Os muçulmanos admitem a existência de nove céus, em cada um dos quais se aumenta a felicidade dos crentes. A teologia cristã reconhece três céus; é conforme esta crença que se diz que Paulo foi alçado ao terceiro céu.
A obra de Kardec, pelo facto de ser muito mais de síntese do que de análise, ocupou-se pouco com o exame do Mundo dos Espíritos. Estudando as diversas obras do Codificador, notamos que os Espíritos foram muito parcos em informações a respeito do seu mundo.
Foi a partir de 1943, com o livro [Nosso Lar], de autoria mediúnica do Espírito André Luiz, psicografado por Chico Xavier, que nós passámos a compreender, com maior profundidade, as regiões extra- físicas.
Sabe-se hoje, que o mundo dos Espíritos se encontra sub-dividido em várias faixas vibratórias concêntricas, tendo a Terra como o centro geométrico. A atmosfera espiritual das diversas esferas será tanto mais pura e eterizada quanto mais afastadas da crosta se encontrar.
Os Espíritos de maior luminosidade habitarão, naturalmente, as esferas mais afastadas, embora tenham livre trânsito entre elas e com frequência visitem as esferas inferiores em tarefas regenerativas e esclarecedoras. Em cada esfera, o solo tem consistência material, e acima vê-se o céu e o sol. Diversas cidadelas espirituais, postos de socorro, ou instituições hospitalares estão distribuídas nas diversas esferas, abrigando Espíritos em condições evolutivas semelhantes.
André Luiz dá o nome de Umbral às três primeiras esferas, contadas a partir da crosta, e segundo este autor, a região umbralina é habitada por Espíritos que ainda necessitam reencarnarem no planeta Terra, comprometidos que estão com vida nesta orbe.
Sobre o umbral, André Luiz [Nosso Lar] dá-nos o seguinte depoimento:
"É a zona obscura de quantos no mundo não se resolveram atravessar as portas dos deveres sagrados, demorando-se no vale da indecisão ou no pântano dos erros numerosos. Funciona como região
de esgotamento de resíduos mentais. Pelo pensamento os homens encontram no Umbral os companheiros que se afinam com as tendências de cada um. Cada Espírito permanece lá o tempo que se faça necessário."
Informa-nos também André Luiz que os Espíritos que estão nas esferas superiores podem transitar pelas esferas que lhes estão abaixo, mas os Espíritos que estão nas esferas inferiores não podem, sozinhos, passar para as superiores.

As Colónias Espirituais
Os livros de André Luiz dão-nos informações detalhadas a respeito da vida nas três primeiras esferas espirituais. Segundo ele, estas faixas vibratórias são formadas de inúmeras cidadelas espirituais, umas maiores, outras menores, onde se reúnem Espíritos em condições evolutivas semelhantes.
As condições de sociabilidade das esferas mais purificadas são para nós ainda totalmente desconhecidas, no entanto, a vida nas regiões mais próximas da crosta desenvolvem-se de maneira semelhante:

Habitação:
Há semelhança com a que existe na Terra. No plano extra- físico vamos identificar casas, hospitais, escolas, templos, etc.
Ernesto Bozzano em [A Crise da Morte] afirma que a paisagem astral é composta de duas séries de objectivações do pensamento. A primeira é permanente e imutável, por ser objectivação do pensamento e da vontade de entidades espirituais muito elevadas, pré- postas os governo das esferas espirituais. A outra é, ao contrário, transitória e muito mutável; seria a objectivação do pensamento de cada entidade desencarnada, criadora do seu próprio meio imediato.
Examinando o pensamento deste autor, podemos aceitar que as construções das
colónias espirituais se enquadram na primeira série, enquanto a paisagem das
regiões umbralinas pertencem à segunda;

Vestuário:
a apresentação externa dos Espíritos depende da sua força mental e do seu desejo, pois eles são capazes de modificarem a sua aparência através de um processo denominado ideoplastia.
Nem todos os Espíritos, no entanto, têm uma condição evolutiva suficiente para poderem plasmar as suas vestes perispirituais, daí a necessidade de roupas confeccionadas por especialistas na área. André Luiz [Nosso Lar] mostra-nos departamentos reservados a esta tarefa;

 Alimentação:
Nem todos os Espíritos são capazes de retirar do Fluido Cósmico Universal a energia reparadora para as suas células, daí a necessidade dos Espíritos ainda materializados, se alimentarem de recursos energéticos mais consistentes. Por este motivo, observam-se no mundo espiritual alimentos à base de sumos, sopas e frutas;


Sono e Repouso:
Quanto mais evoluído for o Espírito, menos necessita de repouso, para reparar as suas energias. Espíritos inferiores dormem à semelhança do homem encarnado;

Transporte:

Os Espíritos superiores deslocam-se através de um processo denominado volitação, onde transformam a sua energia latente em energia cinética, deslocando-se no espaço em altas velocidades. No entanto, Espíritos existem, que ainda não desenvolveram esta faculdade, daí a necessidade de veículos para transporte nas faixas espirituais mais próximas da Terra;

Linguagem:
A linguagem oficial entre os Espíritos é a do pensamento. No entanto, muitas almas ainda involuídas, não conseguem comunicar-se através do pensamento, daí a necessidade da palavra articulada.
Assim sendo, vamos observar colónias onde se fala o português, o inglês, etc.;

Vida Social:
A vida social nas colónias espirituais é intensa e tem como objectivo a preparação dos Espíritos para o seu retorno à Terra numa nova roupagem física, ou seja reencarnarem de novo com um outro corpo físico.
Estudam, trabalham, repousam e divertem-se. Há relatos de casamento, festas e jogos, segundo hábitos e costumes da colónia. O Maria João de Deus [Cartas de Uma Morta] afirma:
"Os saxões, os latinos, os árabes, os orientais, os africanos, formam aqui grandes falanges à parte, e em locais diferentes uns dos outros. Nos núcleos das suas actividades conservam os costumes que os caracterizavam e é profundamente interessante verificar como essas colónias diferem umas das outras."
Manoel Philomeno de Miranda [Loucura e Obsessão] lembra-nos:
"Católicos, protestantes e outros religiosos após a morte, não se tornam espíritas ou conhecedores da realidade ultra- tumular; ao revés, dão curso aos seus credos, reunindo-se em grupos e igrejas afins."
Cabe-nos lembrar que nem todas as cidadelas espirituais têm uma orientação
sádia, voltada para o bem e para o equilíbrio das criaturas. André Luiz [Libertação] diz:
"Incapacitados de prosseguir, além do túmulo, a caminho do Céu que não souberam conquistar, os filhos do desespero organizam-se em vastas colónias de ódio e miséria moral, disputando entre si a dominação da Terra."
Mas lembra também o benfeitor que, a Misericórdia Divina não os desampara pois, que são observados e assistidos continuamente por entidades luminosas;

Animais e Plantas:
O solo do mundo espiritual, à semelhança do solo do planeta é coberto por uma infinidade de plantas, flores e hortaliças que são cultivadas, com muito esmero, por mãos bondosas.
Os animais, como regra geral, reencarnam quase imediatamente após a morte, no entanto, em certas ocasiões, eles podem vir a ser preparados por entidades especializadas para serem utilizados em tarefas específicas.
Muitas vezes, no entanto, as descrições da paisagem espiritual, quando falam de
"formas animalescas", estão se referindo a Espíritos humanos em processo de deterioração dos seus corpos espirituais (licantropia ou zoantropia), como também de "formas ideoplásticas", fruto do pensamento e da vontade de entidades viciosas do astral inferior.

O Homem após a Morte
Lembra-nos Kardec que "após a morte, cada um vai para o lugar que lhe interessa", pois cada individualidade vai deslocar-se, após o desencarne, para a região espiritual que está em concordância com o seu modo de ser e viver. E complementa [ESE]:
"Enquanto uns, não podem afastar-se do meio em que viveram, outros se elevam e percorrem o espaço. Enquanto certos Espíritos culpados erram nas trevas, os felizes gozam de uma luz resplandecente."
De forma didáctica, podemos sistematizar as opções do homem após a morte física em três situações:
a) Continuar Vivendo na Crosta: são Espíritos excessivamente apegados à vida física e que não conseguem assumir a sua condição de desencarnados, continuando a viver nos locais onde se habituaram, às vezes sem ao menos se darem conta de que já não mais pertencem ao mundo material.

Alguns factores que podem condicionar a este apego a vida material:
•ignorância, confusão e medo;
•apegos excessivos a pessoas e lugares;
•inclinações pelas drogas, álcool, fumo, comida e sexo;
•vinculação a negócios não concluídos;
•desejo de vingança.

b) Deslocarem-se para certas regiões do Umbral: muitos Espíritos culpados ou viciosos, após o desencarne, são levados por uma força magnética automática ou por entidades do mal, para uma das regiões umbralinas e lá permanecerão até que o arrependimento e a vontade de reparar o passado modifique a sua psicosfera pessoal;
c) Recolhimento a uma Colónia Espiritual onde deverão integrar-se à Vida Extra- Física.


Bibliografia
a) Coleção Nosso Lar (16 obras) - André Luiz/Chico Xavier
b) Cartas de Uma Morta - Maria João de Deus/Chico Xavier
c) Voltei - Irmão Jacob/Chico Xavier
d) A Vida Além da Morte - Otília Gonçalves/Divaldo Franco
e) Cidade no Além - Heigorina Cunha
f) Loucura e Obsessão - Manoel Philomeno de Mirtanda/Divaldo Franco

quarta-feira, 16 de abril de 2008

ROTA DO ESPÍRITA

Erguer-se de manhã e bendizer a vida.

Espalhar ao redor a presença do bem.

Escutar calmamente as notícias da hora.

Dar a palavra amiga. Ajudar conversando.

Dispor o coração a servir sem perguntas.

Fazer mais que o dever na tarefa em que esteja.

Suportar sem revolta as provações em curso.

Apagar a discórdia e liquidar problemas.

Estudar e entender. Discernir e elevar.

Render culto à Verdade entre bênçãos de amor.

Ver o direito alheio e respeitá-lo em tudo.

Ser fiel ao trabalho e esquecer as ofensas.

Amar fraternalmente a todas as criaturas.

Acender cada noite as estrelas da paz no abrigo da consciência em preces de alegria.

- Eis a rota ideal na jornada constante do espírita-cristão, à luz de cada dia.





pelo Espírito Albino Teixeira - Página recebida pelo médium Francisco Cândido Xavier, em reunião da Comunhão Espírita Cristã, na noite de 17-11-65, em Uberaba, Minas. Fonte: Reformador _ fevereiro, 1966.

sábado, 5 de abril de 2008

Os elementos gerais do universo: Espírito e Matéria

O Espírito
Allan Kardec [Livro dos Espíritos -questão 27] nos informa que todas as coisas que existem no universo podem ser sintetizadas em três elementos fundamentais, a que ele deu o nome de Trindade Universal.
Esses elementos são:
Deus;
Espírito;
Matéria
;
Assim, o espírito, na definição da Doutrina Espírita, é o princípio inteligente do universo, individualizado, com moralidade própria. O espírito é distinto de Deus, seu criador, e da matéria, à qual se une para se poder manifestar.

A Matéria
Define-se matéria, como sendo tudo o que tem massa e que ocupa lugar no espaço. De acordo com este conceito, tudo aquilo que pode ser pesado, medido, etc., é considerado matéria. Existem outros elementos a considerar, porém, como o som, a luz, o calor. Estes são denominados energia.
Habitualmente, costuma-se afirmar que a energia é a capacidade que os corpos possuem para produzir um trabalho ou desenvolver uma força. Sabe-se que a energia não pode ser "criada" e nem "destruída", mas sim transformada. Toda a forma de energia que existe no Universo é a transformação de uma outra anterior.
Partindo da Teoria da Relatividade de Einstein tem-se observado que, na realidade, matéria e energia estão directamente relacionadas.
A matéria é a energia condensada e a energia uma forma de apresentação da matéria.
Na definição da doutrina espírita matéria é "tudo sobre o qual o espírito exerce a sua acção". André Luiz no livro [Mecanismos da Mediunidade] referindo-se ao tema diz-nos:
“A matéria é energia tornada visível e toda energia, originariamente, é força divina de que nos apropriamos para interpor os nossos propósitos aos propósitos da criação."

Tipos de matéria
Ponderável
É a matéria física, que preenche o mundo dos encarnados e dá origem aos corpos e elementos.
Imponderável
Também denominada matéria psi (Hernani Guimarães Andrade), matéria mental (André Luiz) ou matéria quintessenciada (Allan Kardec), é a matéria do mundo espiritual, num tónus vibratório mais elevado.
Fluido Cósmico Universal (FCU)
Também chamado fluido universal, exerce o papel de intermediário entre o espírito e a matéria propriamente dita. Podemos entender o FCU como sendo a matéria- energia elementar primitiva, dispersa por todos os cantos do Universo. Uma matéria extremamente subtil, cujas modificações e transformações vão constituir a inumerável variedade dos corpos da natureza.
André Luiz no livro [Evolução em Dois Mundos] afirma que:
“O Fluido Cósmico é o plama divino, hausto do Criador, força nervosa do Todo- Sábio. Nesse elemento primordial vibram e vivem constelações e sóis, mundos e seres, como peixes no oceano. O Fluido Cósmico é a força em que todos vivemos, nos diversos ângulos variados da Natureza.”

Os Fluidos
Segundo a Física, fluidos são corpos cujas moléculas cedem à mínima pressão, movendo-se entre si com facilidade e separando-se quando entregues a si mesmos.
Na Doutrina Espírita os fluidos têm o mesmo sentido de matéria. Os fluidos podem variar o seu estado desde a eterização até à materialização. É comum a utilização da expressão fluidos espirituais para designar a matéria imponderável, embora segundo Allan Kardec veja-se o livro [Génesis- capítulo XIV] esta denominação não seja exacta.
Todo um processo dinâmico e complexo envolve a formação dos fluidos espirituais. Ao ser absorvido pelo Espírito, o Fluido Cósmico será manipulado na mente. A mente humana é então um brilhante laboratório de forças subtis, onde o Pensamento e a Vontade estarão aglutinando as partículas do Fluido Cósmico e dando a elas características próprias. André Luiz designa por raio da emoção ou raio do desejo a essa força que opera a transformação do Fluido Universal.
Os fluidos, desta forma, possuem várias características. A sua pureza varia ao infinito, dependendo da evolução moral do Espírito que os produziram. Possuem também propriedades, tais como odor, coloração e temperatura. Sob o ponto de vista físico, podem ser vivificantes, calmantes, anestesiantes, curativos, alimentícios, soníferos, enfermiços, etc.

Origem, Natureza e Forma dos Espíritos: Perispírito

Segundo a visão materialista somos tão somente o corpo com que vivemos neste mundo. Ora, tudo indica - e a análise química o comprova - que o nosso corpo é formado exclusivamente de matéria, como os demais corpos da natureza.
Mas uma análise mais consciente e uma observação mais profunda mostram-nos que no homem existe mais do que apenas matéria. O homem pensa e tem consciência plena da sua existência; relaciona ideias, estabelece conceitos, elabora juízos, constrói raciocínios, tira conclusões, e, servindo-se de um instrumento maravilhoso, que é a linguagem, comunica tudo isto aos seus semelhantes. Nada que a isto sequer se
pareça ocorre no mineral ou num monte de matéria inanimada.
A matéria por si mesma não pensa; então lógico será pensar que, existe em nós, além do corpo material, algo mais, que é o agente do nosso pensamento, e que se chama alma ou espírito.
Esse raciocínio, perfeitamente lógico e conforme a mais pura razão humana, deveria ser suficiente para que nenhuma dúvida existisse no homem a respeito de que nele vive essencialmente um espírito.
No entanto, muitos há que não crêem na realidade da própria existência, em si como Espírito imortal.
Então Deus, na sua infinita bondade e amor, concedeu ao homem, com as manifestações espíritas, as provas cabais de que no ser humano vive um espírito, que pré- existe ao corpo e sobrevive à morte física.

O Espírito
No Livro dos Espíritos -questão 76 os Espíritos são definidos como sendo “os seres inteligentes da Criação”. São criados por Deus permanentemente, e, na sua essência, apresentam-se como “uma chama, um clarão ou centelha
etérea” Livro dos Espíritos -questão 88. Os Espíritos são eternos e indestrutíveis, mantendo sempre a sua individualidade.
Quanto à natureza íntima dos Espíritos podemos compreender que a inteligência é o seu atributo essencial.
Todos são criados iguais, “simples e ignorantes” e dotados de faculdades a serem desenvolvidas através das experiências reencarnatórias.
Em a Génese Allan Kardec externa mais claramente o seu pensamento evolucionista, afirmando que "O espírito não chega a receber a iluminação divina, sem haver passado pela série divinamente fatal dos seres inferiores."
Quanto à sua apresentação exterior, o espírito propriamente dito não a tem, pois que é imaterial, mas no entanto encontra-se revestido, sempre, de um corpo energético, fluídico, que Kardec denominou de perispírito. O perispírito dará forma ao espírito, permitindo assim a sua identificação.

O Perispírito
Estudando as religiões e filosofias vê-se que muitos homens procuraram um elemento energético que pudesse servir de união entre o corpo físico e o espírito, numa harmónica graduação vibratória.

Por exemplo:
No Egipto acreditava-se na existência de um corpo chamado KA. Na Índia, denominavam de "Linga Sharira".
Os filósofos gregos chamavam-no de "Veículo Leve", "Corpo Luminoso" e "carro subtil da alma". Para Leibnitz, chamava-se "corpo fluídico" e para Paulo de Tarso, "Corpo Espiritual".
No exame das suas principais características, o perispírito deve-se analisar sob os seguintes aspectos:

Função: quando encarnado, é o intermediário entre o espírito e o corpo somático, tendo como função transmitir as sensações do corpo para o espírito e as impressões do espírito para o corpo. É ainda o "campo modelador da forma", pois, durante a gestação, será o perispírito o responsável pela estruturação do embrião, através de um campo magnético criado por ele. No Espírito desencarnado o perispírito corresponde ao seu envoltório, possuindo na sua estrutura eléctro- magnética órgãos e sistemas celulares à semelhança do corpo físico;

Forma: geralmente a forma do perispírito corresponde à aparência do corpo somático. Ao desencarnarmos, o corpo espiritual, na maioria das vezes, mantém a forma que tinha quando encarnado, no
entanto, muitos Espíritos encontram-se aptos a promoverem transformações na sua organização perispiritual, podendo assumir uma aparência de encarnações anteriores;

Densidade:
a densidade do perispírito é rarefeita nos Espíritos já evoluídos e pastosa ou opaca nos Espíritos ainda imperfeitos;

Coloração: o perispírito não se encontra preso no corpo como se estivesse dentro de uma caixa; ele irradia-se e projecta-se além do corpo físico, formando a Aura. Esta estrutura vai assumir colorações diferentes em função do estágio evolutivo do indivíduo. Brilhante e luminosa nos Espíritos superiores e sem
nenhum brilho, sem luminosidade e sem beleza nas entidades que se encontram ainda muito materializadas;

Centros de Força: o perispírito é constituído de vários centros energéticos que concentram e coordenam a assimilação e distribuição de energias. São denominados de chacras ou centros de força.
Segundo André Luiz no livro Missionários da Luz, Evolução em Dois Mundos os principais chacras são:
Coronário (alto da cabeça);
Cerebral (na fronte);
Laríngeo (pescoço);
Cardíaco (no peito);
Gástrico (abdómen);
Esplénico (região do baço);
Genésico (sobre o aparelho genital);

Bibliografia e referências

a) O Livro dos Espíritos - Allan Kardec
b) A Génese - Allan Kardec
c) Mecanismos da Mediunidade - André Luiz/Chico Xavier
d) Evolução em Dois Mundos - André Luiz/Chico Xavier - Waldo Vieira
e) Psi Quântico - Hernani Guimarães Andrade
f) Espírito, Perispírito e Alma - Hernani Guimarães Andrade
g) Psicologia Espírita - Jorge Andréa
h) Obras Póstumas - Allan Kardec
i) Missionários da Luz - André Luiz/Chico Xavier

domingo, 30 de março de 2008

Estudo do Espiritismo-Capítulo 3 - O Tríplice Aspecto do Espiritismo

No prólogo de o livro “O Que é o Espiritismo”, Allan Kardec define o Espiritismo como sendo: "Uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos espíritos, bem como das suas relações com o mundo espiritual."
Em outra passagem, ainda na mesma obra, o Codificador acrescenta ainda:
"O Espiritismo é ao mesmo tempo ciência experimental e Doutrina Filosófica. Como ciência prática, tem a sua essência nas relações que podem ser estabelecidas com os espíritos.
Como filosofia compreende todas as consequências morais decorrentes dessas relações."
Pode-se observar no pensamento do Codificador, que o Espiritismo se reveste assim de três aspectos distintos, mas complementares:
a) Ciência Experimental;
b) Doutrina Filosófica;
c) As consequências morais decorrentes das duas anteriores.
Emmanuel, em [O Consolador] nos diz:
"Podemos tomar o Espiritismo, simbolizado como um triângulo de forças espirituais. A ciência e a filosofia vinculam à Terra essa figura simbólica, porém, a religião é o ângulo divino que a liga ao céu."
Em outra mensagem mediúnica, o benfeitor acrescenta:
"Não será justo no nosso movimento libertador da vida espiritual, prescindir da ciência que estuda, da filosofia que esclarece e da religião que sublima."

Espiritismo e Ciência
No aspecto científico, o Espiritismo demonstra a existência da alma e a sua imortalidade, principalmente através do intercâmbio mediúnico entre os encarnados e desencarnados.
O espiritismo preocupa-se em estudar a intimidade do fenómeno mediúnico, as suas consequências na vida das pessoas, bem como as características do ser espiritual, a sua origem, a sua natureza e o seu destino.
O aspecto científico do Espiritismo desenvolve-se em duas obras de Allan Kardec, o Livro dos Médiuns e A Génese.

Espiritismo e Filosofia
Quando o Homem pergunta, interroga, cogita, quer saber o "como" e o "porquê" das coisas, dos factos, dos acontecimentos, nasce a filosofia que mostra o que são as coisas e porque são as coisas.
No aspecto filosófico, o Espiritismo preocupa-se com os problemas do Homem, com as suas dúvidas, as suas questões, a sua condição de ser eterno em busca da Divindade, através de múltiplas existências físicas. Vai examinar os atributos da Divindade, as suas relações com o Homem e vai apresentar um código de moral através do qual a criatura se identificará, um dia, com o seu Criador. O aspecto filosófico encontra-se tocado no Livro dos Espíritos.

Espiritismo e Religião
Ao ser questionado quanto ao aspecto religião do Espiritismo, o médium Francisco Cândido Xavier assim se manifestou [Entrevistas – item 97]:
"Poderíamos figurar, por exemplo, a Ciência como sendo a verdade, a Religião, como sendo a vida e a Filosofia como sendo a indagação da criatura humana entre a Verdade e a Vida. Todos os três aspectos são muito importantes, porque a Filosofia estuda sempre, a Ciência descobre sempre, mas a Vida actua sempre. Todos esses aspectos são essenciais, mas a Religião é sempre a mais importante, porque a verdade é uma luz que a todos chegaremos, a indagação é um processo do que todos participamos, mas a vida não deve ser sacrificada nunca e a Religião assegura a vida, assegurando a ordem da vida."
Como religião, o Espiritismo preocupa-se com as consequências morais do ensino científico- filosófico, buscando, na ética pregada por Jesus, os elementos que deverão ser a meta e a conduta do Homem.
No entanto, o Espiritismo não se trata de uma Religião constituída, tradicional, estruturada através de rituais, sacramentos, dogmas e classes sacerdotais. Mas sim, uma religião no sentido etimológico do termo, como "religare", ou seja, elemento de ligação da criatura com o Criador. Religião como atitude de vida, como modo de proceder, buscando uma identificação com Deus, não através de atitudes exteriores, artificiais, mecanizadas, mas através de uma vida recta, digna e fraterna.
O Espiritismo não se pode considerar uma religião a mais, visto que não tem cultos instituídos, nem imagens, nem rituais, nem mitos, nem crendices, nem tão pouco sacerdotes remunerados. Podemos porém, considerá-lo no seu aspecto religioso quando estabelece um laço moral entre os homens, conduzindo-os em direcção ao Criador, através da vivência dos ensinamentos morais do Cristo. É no seu aspecto religioso que assenta a sua grandeza divina, por constituir a restauração do Evangelho de Jesus, estabelecendo a renovação definitiva do homem, para a grandeza do seu imenso futuro espiritual.
O aspecto religioso é desenvolvido por Kardec nas obras o Evangelho Segundo o Espiritismo e no Céu e Inferno.

Deus e os atributos da Divindade
No Livro dos Espíritos, o capítulo I trata exclusivamente de Deus. Allan Kardec pretendeu assim demonstrar, com isso, que o Espiritismo tem na existência de Deus o seu primeiro princípio basilar.
Deus, porém, não pode ser percebido pelo homem na sua divina essência. Mesmo depois de desencarnado, dispondo de faculdades perceptivas menos materiais, não pode ainda o espírito perceber totalmente a sua natureza divina.
Pode, entretanto, o homem, ainda no estágio de inferioridade em que se encontra, ter convincentes provas de que o espírito existe. Esta provas se assentam na razão e no sentimento.
Racionalmente, a prova da existência de Deus encontramo-la neste axioma: "Não há efeito sem causa."
Vemos constantemente uma imensidade de efeitos cuja causa não está na humanidade, pois a humanidade é impotente para produzi-los. A causa, portanto, está acima da humanidade. É a esta causa que se chama Deus, Jeová, Alá, Fo-Hi, etc.
Outro princípio igualmente elementar e que de tão verdadeiro passou a axioma é o de que "todo efeito inteligente tem que decorrer de uma causa inteligente."
Os efeitos referidos acima absolutamente não se produzem ao acaso, fortuitamente e em desordem.
Desde a organização do mais pequenino insecto e da mais insignificante semente, até a lei que rege os mundos que circulam no espaço, tudo atesta uma ideia directora, uma combinação, uma providência que ultrapassa todas as combinações humanas. A causa é, pois, soberanamente inteligente. Alguns atribuem a formação primária das coisas a uma combinação da matéria, isto é, ao acaso. Isto constitui uma insensatez, pois o acaso é cego e não pode produzir os efeitos que a inteligência produz. Um acaso inteligente já não seria acaso.
Kardec lembra um provérbio que diz: “Pela obra se reconhece o autor.” Vejamos a obra e procuremos o autor. O homem orgulhoso nada admite acima de si. Procurando a causa primária da obra do Universo, se reconhece no seu autor uma inteligência suprema, superior à humanidade.
Para crer-se em Deus, basta que se lance o olhar sobre as obras da Criação. O universo existe, logo tem uma causa. Duvidar da existência de Deus é negar que todo o efeito tem uma causa e adiantar que o nada pode fazer alguma coisa.
Pelo sentimento, pode o homem, ainda compreender a existência de Deus, porque há no homem, desde o mais primitivo até ao mais civilizado, a ideia inata da existência de Deus. Acima pois, do raciocínio lógico, prova-nos a existência de Deus a intuição que dele temos.
O sentimento instintivo que todos os homens têm da existência de Deus é, sem dúvida, uma forte evidência da Sua realidade. Esse sentimento não é fruto de uma educação, resultado de ideias adquiridas pois ele é universal, encontra-se mesmo entre os selvagens a que nenhum ensinamento a respeito foi ministrado.
Os povos selvagens nenhuma revelação tiveram, no entanto, crêem instintivamente na existência de um poder sobre-humano.

O Que é Deus?
Com respeito ao conceito de Deus segundo o Espiritismo, sabendo-se que limitar Deus a uma única definição é impossível.
Allan Kardec em o livro dos espíritos, questão 1 indaga aos Espíritos sobre a Divindade. De forma lógica, não usa a forma
“Quem é Deus?” que daria um sentido de personificação, uma ideia antropomórfica, mas busca ele a natureza íntima, a essência das coisas, formulando a proposição desta forma: “Que é Deus?”; ao que os Espíritos respondem:
"Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas."
Mas quando Kardec procura desenvolver esta definição dos espíritos indagando se poderíamos aprofundar no entendimento da Divindade, os benfeitores afirmam:
"Não. Falta-lhe, para tanto, um sentido."
E acrescentam:
"Quando o seu espírito não estiver mais obscurecido pela matéria, e pela sua perfeição tiver se aproximado Dela, então A verá e A compreenderá." (Livro dos Espíritos – Questões 10 e 11)

Atributos da Divindade
Afirma Allan Kardec, baseado no pensamento dos Espíritos Superiores, que não é dado ao homem sondar a natureza íntima de Deus. Para compreendê-lo, ainda nos falta o sentido próprio, que só se adquire
por meio da completa depuração do espírito.
Mas, se não pode penetrar na essência de Deus, o homem pode, pelo raciocínio, chegar a conhecer-lhe os atributos necessários, suas qualidades básicas, porquanto, vendo o que ele absolutamente não pode ser, sem deixar de ser Deus, deduz daí o que ele deve ser.
Sem o conhecimento dos atributos de Deus, impossível seria compreender-se a obra da Criação.
Esse o ponto de partida de todas as crenças religiosas e é por não se terem reportado a isso, como ao farol capaz de as orientar, que a maioria das religiões errou nos seus dogmas. As que não atribuíram a Deus a omnipotência imaginaram muitos deuses, as que não lhe atribuíram soberana bondade fizeram dele um Deus cioso, colérico, parcial e vingativo.
Podemos assim dizer que Deus é a SUPREMA e SOBERANA INTELIGÊNCIA, ETERNO, IMUTÁVEL, IMATERIAL, OMNIPOTENTE, SOBERANAMENTE JUSTO e BOM, INFINITAMENTE PERFEITO e ÚNICO.
-) Suprema e Soberana Inteligência: é limitada a inteligência do homem, pois que não pode fazer, nem compreender tudo o que existe. A de Deus, abrangendo o infinito, tem de ser infinita. Se a supuséssemos limitada num ponto qualquer, poderíamos conceber outro ser mais inteligente, capaz de compreender e fazer o que o primeiro não faria e assim por diante, até ao infinito.

-) Eterno: Deus não teve começo e não terá fim. Se tivesse tido princípio, houvera saído do nada. Ora, não sendo o nada coisa alguma, coisa nenhuma pode produzir. Ou, então, teria sido criado por outro ser anterior, nesse caso, este ser é que seria Deus. Se lhe supuséssemos um começo ou fim, poderíamos conceber uma entidade existente antes dele e capaz de lhe sobreviver, e assim por diante, ao infinito.

-) Imutável: se estivesse sujeito a mudanças, nenhuma estabilidade teriam as leis que regem o universo.

-) Imaterial: a natureza de Deus difere de tudo o que chamamos matéria. De outro modo, não seria imutável, pois estaria sujeito às transformações da matéria.
-) Omnipotente: se não possuísse o poder supremo, sempre se poderia conceber uma entidade mais poderosa e assim por diante, até chegar-se ao ser cuja potencialidade nenhum outro ultrapassasse.
Então esse é que seria Deus.

-) Soberanamente Justo e Bom: a providencial sabedoria das leis divinas se revela nas mais pequeninas coisas, como nas maiores, não permitindo essa sabedoria que se duvide da sua justiça, nem da sua bondade.

-) Infinitamente Perfeito: é impossível conceber-se Deus sem o infinito das perfeições, sem o que não seria Deus, pois sempre se poderia conceber um ser que possuísse o que lhe faltasse. Para que nenhum ser possa ultrapassá-lo, faz-se mister que ele seja infinito em tudo.

-) Único: a unicidade de Deus é consequência do facto de serem infinitas as suas perfeições.
Não poderia existir outro Deus, salvo sob a condição de ser igualmente infinito em todas as coisas, visto que se houvesse entre eles a mais ligeira diferença, um seria inferior ao outro, subordinado ao poder desse outro e então, não seria Deus. Se houvesse entre eles igualdade absoluta, isto equivaleria a existir de toda eternidade, um mesmo pensamento, uma mesma vontade, um mesmo poder. Confundidos assim, quanto à
identidade, não haveria, em realidade, mais do que um único Deus.

A Providência Divina
A providência é a solicitude de Deus para com as suas criaturas, o cuidado permanente e o interesse infinito que o Criador tem pela sua obra maior, que é o espírito.
Deus está em toda parte, tudo vê, a tudo preside, mesmo às coisas mais mínimas. É nisto que consiste a acção providencial.
Deus, em relação às suas criaturas, é a própria Providência, na sua mais alta expressão, infinitamente acima de todas as possibilidade humanas. Manifesta-se em todas as coisas, está imanente no universo e se exerce através de leis admiráveis e sábias. Tudo foi disposto pelo amor do Pai, soberanamente bom e justo, para o bem dos seus filhos, desde as mais elementares providências para a manutenção da vida orgânica até à dispersão da faculdade superior do livre arbítrio, que dá ao homem o
mérito da conquista consciente da felicidade.
Deus tudo fez e tudo faz para o bem das criaturas. Imprimiu-lhes na consciência todas as leis morais e, em relação à humanidade terrestre, ainda se manifestou quando nos confiou a Jesus.

Bibliografia e referências
a) [LE] O Livro dos Espíritos - Allan Kardec
b) [GEN] A Gênese - Allan Kardec
c) O que é o Espiritismo - Allan Kardec
d) Livro dos Espíritos - Allan Kardec
e) Allan Kardec (Vol. III) - Zêus Wantuil e Francisco Thiesen
f) O Consolador - Emmanuel/Chico Xavier
g) Entrevistas - Emmanuel/Chico Xavier

segunda-feira, 24 de março de 2008

Curso de Introdução à Doutrina Espírita - Cap. 2º. As Três Revelações

Cap. 2º. As Três Revelações
2.1 - Introdução
Revelar significa, literalmente, sair sob o véu, e, figuradamente, descobrir, dar a conhecer uma coisa secreta ou desconhecida.
A característica essencial de qualquer revelação tem de ser a verdade. Revelar o segredo é tornar conhecido um facto; se é falso, já não é um facto e, por consequência, não existirá revelação.
No sentido especial da fé religiosa, a revelação se refere, mais particularmente, das coisas espirituais que o homem não pode descobrir por meio da inteligência, nem com o auxílio dos sentidos, e cujo conhecimento lhe dá Deus através dos Seus mensageiros, quer por meio da palavra directa, quer pela inspiração. Neste caso, a revelação é sempre feita a homens predispostos, designados sob o nome de
profetas ou messias.
Todas as religiões tiveram os seus reveladores, e estes, embora longe estejam de conhecer toda a verdade, tinham uma razão de ser providencial, porque eram apropriados ao tempo e ao meio em que viviam, ao carácter particular dos povos a quem falavam, e aos quais, eram relativamente superiores.
Allan Kardec [GEN-cap I] assevera-nos que três foram as grandes revelações da Lei de Deus:
a primeira representada por Moisés;
a segunda por Jesus;
e a terceira e última revelação pelo Espiritismo.
Em [O Consolador], o benfeitor Emmanuel tange ao tema da seguinte forma:
"Até agora a Humanidade da era cristã recebeu a grande Revelação em três aspectos essenciais: Moisés trouxe a missão da Justiça; o Evangelho, a revelação insuperável do Amor e o Espiritismo, na sua feição de Cristianismo redivivo, traz, por sua vez, a sublime tarefa da Verdade."



2.2 - Primeira Revelação: Moisés
Moisés, como profeta, revelou aos homens a existência de um Deus único e soberano Senhor e orientador de todas as coisas; promulgou a lei do Sinai e lançou as bases da verdadeira fé. Como homem, Moisés foi o legislador do povo pelo qual essa primitiva fé, purificando-se, havia de se espalhar por toda a Terra.
Emmanuel nos diz:
"Moisés trazia consigo as mais elevadas faculdades mediúnicas, apesar das suas características de legislador humano. É inconcebível que o grande missionário dos judeus e da Humanidade pudesse ouvir o espírito de Deus. Estais, porém habilitados a
compreender que a Lei, ou a base da Lei (os Dez Mandamentos), foi-lhe ditada pelos emissários de Jesus.
Examinando-se os seus actos enérgicos de homem, há ainda que considerar as características da época em que se verificou a sua grande tarefa. Com expressões diversas, o grande enviado não poderia dar conta exacta das suas preciosas obrigações,
em face da Humanidade ignorante e materialista."


2.2.1 - A Lei Mosaica
Existem duas partes distintas na lei mosaica: a lei de Deus, promulgada sobre o Monte Sinai, e a lei civil ou disciplinar, estabelecida pelo próprio Moisés. Uma é invariável; a outra é apropriada aos costumes e ao carácter do povo e modifica-se com o tempo.
A primeira, é lei de todos os tempos e de todos os países, e tem, por isso mesmo, um carácter divino.
A segunda, foi criada pelo missionário para manter o temor de um povo naturalmente turbulento e indisciplinado, no qual tinha de combater abusos arraigados e preconceitos adquiridos durante a servidão do Egipto.
André Luiz, referindo-se à parte divina da Lei Mosaica, diz-nos:
"Os Dez Mandamentos recebidos mediunicamente pelo profeta, brilham ainda hoje por alicerce de luz na edificação do Direito, dentro da ordem social."

O Decálogo ou os dez mandamentos
1. Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egipto, da casa da servidão. Não terás deuses estrangeiros diante de mim. Não farás para ti imagens de escultura, nem figura alguma de tudo o que há em cima no Céu, e do que há em baixo na terra, nem de coisa que haja nas águas, debaixo na terra. Não andarás, nem lhes darás culto.

2. Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão.

3. Lembra-te de santificar o dia de sábado.

4. Honrarás a teu pai e a tua mãe, para teres uma dilatada vida sobre a Terra.

5. Não matarás.

6. Não cometerás adultério.

7. Não furtarás.

8. Não dirás falso testemunho contra o teu próximo.

9. Não desejarás a mulher do próximo.

10. Não cobiçarás a casa do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem outra coisa alguma que lhe pertença.
Fonte: [ESE-cap I]

2.3 - Segunda Revelação: Jesus
A segunda grande revelação da Lei de Deus, na concepção de Kardec, foi apresentada por Jesus.
Segundo o benfeitor André Luiz [Evolução em Dois Mundos]:
"Com Jesus, a religião, como sistema educativo, alcança eminência inimaginável. Nem templos de pedras, nem rituais. Nem hierarquias efémeras, nem avanço ao poder humano. O Mestre desaferrolha as arcas do conhecimento enobrecido e distribui-lhe os tesouros."
Allan Kardec, examinando a Revelação Cristã, lembra que "O Cristo, tomando da antiga lei o que é eterno e divino e rejeitando o que era transitório, puramente disciplinar e de concepção humana, acrescentou a revelação da vida futura, de que Moisés não falara, assim como a das penas e recompensas que aguardam o homem depois da morte."
Acrescenta Kardec que a filosofia cristã estava sedimentada numa concepção inteiramente nova da Divindade. Esta já não era mais a concepção de um Deus terrível, ciumento, vingativo, como O apresentava Moisés, mas um Deus clemente, soberanamente bom e justo, cheio de mansidão e misericórdia, que perdoa ao vicioso e dá a cada um segundo as suas obras. Enfim, já não é o Deus que quer ser temido, mas o Deus que quer ser amado.

2.3.1 - Quem é Jesus?
Lembra-nos o Espírito Emmanuel, que "De forma alguma poderíamos fazer um estudo minucioso da psicologia de Jesus, por nos faltar maturidade espiritual para tanto."
No entanto, a respeito do Messias, sabe-se que foi Ele o Enviado de Deus, a representação do Pai junto ao rebanho de filhos transviados do seu amor e da sua sabedoria. Director angélico do orbe terreno,
acompanhou todo o processo de formação da Terra, o primórdio da vida no planeta, e vem seguindo, com a mais extremada atenção, a todos os espíritos que vinculados a este orbe.
Mostra ainda Emmanuel que Jesus não pode ser compreendido como um simples filósofo, tendo-se em conta os valores divinos da sua hierarquia espiritual, conseguidos à custa de inumeráveis encarnações em mundos, hoje já inexistentes.
Esteve encarnado no nosso planeta uma única vez, e tornou-se, na expressão do Codificador, o "modelo e guia para a humanidade", haja vista ter sido Jesus o único Espírito Puro a envolver-se na materialidade da Terra.

2.3.2 - Os Evangelhos
A Mensagem Cristã encontra-se distribuída nos quatro evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João), nas Epístolas apostólicas, nos Actos dos Apóstolos e no Apocalipse de João.
Uma análise crítica dos Evangelhos e das Cartas Apostólicas, leva-nos, naturalmente, ao encontro de algumas passagens pouco aceitáveis, ilógicas ou até mesmo absurdas: "A tentação no deserto", "A expulsão dos vendilhões do templo" e muitos pensamentos colocados na boca de Jesus, não resistem a uma análise racional por se encontrarem em evidente contradição com os mais elementares princípios da lógica, da justiça e da caridade.
Estes desencontros evangélicos em nada desmerecem a obra, que é, segundo Kardec, "código universal da moral", mas despertam a nossa atenção para alguns detalhes vinculados a ela:

a) As Adulterações Involuntárias: Jesus nada escreveu. Acredita-se que as primeiras anotações tenham surgido muito tempo depois da sua morte. Marcos, Lucas e Paulo não chegaram a conhecer o Messias e, portanto, colheram e reuniram informações de outras fontes. Todos essas evidências levam-nos a acreditar que determinadas colocações apresentadas nos Evangelhos não correspondem à realidade absoluta dos
factos. Certamente, ocorreram adulterações involuntárias.

b) Os Enxertos dos Evangelistas: analisando com atenção os evangelhos, notamos, que uma preocupação básica ocupava a mente dos evangelistas: provar que Jesus era de facto o Messias aguardado pelos judeus. Para que a Mensagem cristã viesse a vingar na Palestina, esta ideia deveria prevalecer. Acredita-se então, que algumas passagens da Boa Nova não ocorreram realmente, mas foram acrescentadas às anotações com esse mesmo objectivo. "O nascimento de Jesus em Belém", "a hipotética viagem ao Egipto", a "Tentação no deserto" e muitas outras passagens teriam sido enxertadas para provar a tese de que Jesus era o Salvador dos Judeus, o Enviado de Jeová.

c) As Adulterações Posteriores da Igreja: muitas anotações verificadas nos textos bíblicos de hoje não são identificadas nas versões originais, mostrando que foram acrescentadas posteriormente. Para justificar certos dogmas, alguns sacramentos e determinadas práticas religiosas, certos representantes da Igreja, ainda nos primeiros séculos da era Cristã, acrescentaram aos textos originais ideias, princípios e passagens que na realidade não ocorreram.

2.4 - Terceira Revelação: Espiritismo
Allan Kardec apresenta o Espiritismo como sendo a Terceira Revelação da Lei de Deus, o Consolador prometido aos homens por Jesus, conforme anunciado por [João-XIV:15-17,26]:
"Se me amais, guardai os meus mandamentos. E eu rogarei ao Pai e Ele vos
dará outro Consolador, para que fique eternamente convosco, o Espírito da Verdade, a quem o mundo não pode receber, porque não o vê, nem o conhece. Mas vós o conhecereis, porque ele ficará convosco e estará em vós. - Mas o Consolador, a quem o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito."
Kardec, examinando o tema, afirma:
"O Espiritismo vem, no tempo assinalado, cumprir a promessa do Cristo. Ele chama os homens à observância da lei; ensina todas as coisas, fazendo compreender o que o Cristo só disse em parábolas. O Espiritismo vem abrir os olhos e os ouvidos porque ele fala sem figuras e alegorias."
Da mesma maneira que Jesus não veio destruir a lei mosaica, apresentada 15 séculos antes Dele por Moisés, assim também o Espiritismo não vem derrogar a lei cristã mas sim completá-la, desenvolvê-la, enriquecê-la.
Nesse sentido, o Espiritismo se propõe a revelar tudo aquilo que Jesus não pode dizer àquela época em função da pouca maturidade espiritual de sua gente. Ele é, portanto, obra do Cristo, que o preside e o acompanha, objectivando a recuperação moral da humanidade.

2.4.1 - O Carácter da Revelação Espírita
Do ponto de vista de uma revelação religiosa, o Espiritismo apresenta algumas características particulares:
• Estruturação Colectiva
A primeira revelação teve a sua personificação em Moisés, a segunda no Cristo, a terceira não a tem em indivíduo algum; as duas primeiras foram individuais, a terceira colectiva; aí está um carácter essencial de grande importância. Ela é colectiva no sentido de não ser feita ou dada como privilégio a pessoa alguma; ninguém, por consequência, pode inculcar-se como seu profeta exclusivo; foi espalhada simultaneamente, por sobre a Terra, a milhões de pessoas, de todas as idades e condições, desde a mais baixa até a mais
alta da escala.
Lembra Kardec:
"Que as duas primeiras revelações, sendo fruto do ensino pessoal ficaram forçosamente localizadas, isto é, apareceram num só ponto, em torno do qual a ideia se propagou pouco a pouco; mas foram precisos muitos séculos para que atingissem as extremidades do mundo, sem mesmo o invadirem inteiramente. A terceira tem isto de particular: não estando personificada num só indivíduo, surgiu simultaneamente em milhares de pontos diferentes, que se tornaram centros ou focos de irradiação."
• Origem Humano- Espiritual
Surgindo o Espiritismo numa época de emancipação e madureza espiritual, em que a inteligência, já desenvolvida, não se resigna a representar papel passivo; em que o homem nada aceita às cegas, mas quer ver aonde o conduzem, quer saber o porquê e o como de cada coisa - tinha ela de ser ao mesmo tempo o produto de um ensino e o fruto do trabalho, da pesquisa e do livre exame. Assim sendo, os Espíritos propõem-se a ensinar somente aquilo que é mister para guiar o homem no caminho da verdade,
mas se abstêm de revelar o que o homem pode descobrir por si mesmo, deixando-lhe o cuidado de discutir, verificar e submeter tudo ao cadinho da razão, deixando mesmo, muitas vezes, que adquira experiência à sua custa. Fornecem-lhe o princípio, os materiais; cabe-lhe, a ele, aproveitá-los e pô-los em obra.
O Espiritismo, portanto, tem uma dupla origem: espiritual, pois a sua estrutura doutrinária foi em grande parte ditada por Espíritos Superiores preparados para este mister; e nesse sentido ele é uma revelação.
Mas tem também uma origem humana, pois foi e continua sendo enriquecido, trabalhado e burilado por espíritas cultos e dedicados que dão o melhor de si no aperfeiçoamento da obra.

• Carácter Progressivo
Um último carácter da revelação espírita é que, apoiando-se em factos, tem de ser, essencialmente progressiva como todas as ciências de observação. Por sua substância, alia-se à Ciência que, sendo a exposição das leis da natureza com relação a certa ordem de factos, não pode ser contrária às leis de Deus, autor daquelas leis.
O Espiritismo pois, não estabelece como princípio absoluto senão o que se acha evidentemente demonstrado, ou o que ressalta logicamente da observação. Entendendo com todos os ramos da economia social, aos quais dá o apoio das suas próprias descobertas, assimilará sempre todas as doutrinas progressivas, de qualquer ordem que sejam, desde que hajam assumido o estado de verdades práticas.
Kardec, a respeito desse carácter, emite vários pensamentos notáveis:
"Caminhando de par com o progresso, o Espiritismo jamais será ultrapassado, porque se novas descobertas lhe demonstrassem estar em erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificaria nesse ponto. Se uma verdade nova se revelar, ele a aceitará." [GEN-cap I,it 55]
"A melhor religião será a que melhor satisfaça à razão e às legítimas aspirações do coração e do espírito; que não seja em nenhum ponto desmentida pela ciência positiva, que em vez de se imobilizar, acompanhe a humanidade em sua marcha
progressiva, sem nunca deixar que a ultrapassem." [GEN-cap XVII,it 32]
"Se uma nova lei for descoberta, tem a Doutrina Espírita que se por de acordo com essa lei. Não lhe cabe fechar a porta a nenhum progresso, sob pena de se suicidar. Assimilando todas as ideias reconhecidamente justas, de qualquer ordem que sejam, físicos ou metafísicos, ela jamais será ultrapassada, constituindo isso uma das
principais garantias da sua perpetuidade."
[OP- 2ª parte]
Bibliografia e referências
a) [ESE] O Evangelho Segundo o Espiritismo - Allan Kardec
b) [GEN] A Génese - Allan Kardec
c) [OP] Obras Póstumas - Allan Kardec
d) A Caminho da Luz - Emmanuel/Chico Xavier
e) O Consolador - Emmanuel/Chico Xavier
f) Evolução em Dois Mundos - André Luiz/Chico Xavier - Waldo Vieira
g) Cristianismo e Espiritismo - Leon Denis
h) Cristianismo: A mensagem esquecida - Hermínio Miranda

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Cap.1 Doutrina Espírita: Allan Kardec e as Obras Básicas

1.1 - Introdução
Os factos atinentes às revelações dos Espíritos ou fenómenos mediúnicos remontam à mais recuada antiguidade, sendo tão velhos quanto o é o nosso mundo. A História, a este propósito, encontra-se cheia desses fenómenos de comunicação espiritual. A respeito destes fenómenos, muitos homens ilustres manifestaram-se favoravelmente, tais como: Sócrates, Platão, Pitágoras, Empédocles, Apolónio de Tiana, Buda, Hermes Trimegisto, etc.
As evocações de Espíritos sempre existiram, tanto no Ocidente como no Oriente, como se pode concluir pelos relatos do Código dos Vedas e do Código de Manu.
Paulo, o Apóstolo, em suas cartas, reconhecia a prática das manifestações espirituais, alertando-nos desde logo quanto à procedência dessas comunicações. Na Idade Média, destaca-se a figura admirável de Joana D'Arc, a grande médium, que se recusa sempre a renegar as vozes espirituais.
1.2 - Precursores Imediatos:
Só numa época mais moderna é que podemos melhor situar a fase precursora do Espiritismo. A diferença entre os factos desta fase e os fenómenos da "Pré-História", como bem acentua Arthur Conan Doyle, está em que estes últimos episódios eram esporádicos, sem que existisse uma sequência metódica, enquanto que aqueles têm a característica de uma "invasão organizada". É nessa época mais moderna que vamos encontrar alguns notáveis antecessores do Espiritismo, como o famoso clarividente sueco, Emmanuel Swedenborg, dotado de largo potencial de forças psíquicas.
Um outro notável precursor foi Andrew Jackson Davis, magnífico sensitivo e considerado como “O Profeta da Nova Revelação”.
1.3 - Os Fenómenos Hydesville e as Mesas Girantes.
Hydesville era uma pequena cidade no interior do estado de Nova Iorque, nos Estados Unidos.
Poucas casinhas de madeira, alguns estabelecimentos comerciais e muita calma. Até que se transfere para lá, no ano de 1846, a família Fox. O primeiro ano da família Fox em Hydesville decorre sem incidentes, embora vez por outra, observassem ruídos estranhos à semelhança de "arranhaduras" nas paredes. Em meados de Março de 1848, tais ruídos atingiram proporções gigantescas: pancadas, arrastar de móveis e tremores nas camas. A família estava decidida a mudar-se, quando na noite de 31 de Março de 1848 (data que os americanos consideram como de fundação do “Novo Espiritualismo”), a menina Kate, de 11 anos, decide "interrogar as pancadas".
Diz: “- Senhor Pé Rachado, faça o que eu faço.” e bateu 3 palminhas.
Imediatamente ouviu 3 pancadas.
Margarete, sua irmã de 14 anos, achou interessante e disse:
"Agora sou eu; faça assim." E bateu 4 palmas. Quatro pancadas ressoaram.
A partir daí centenas de pessoas foram chamadas a presenciar o fenómeno e, através de um alfabeto, representando as letras através de pancadas, eles descobriram que estavam conversando com
um "morto". Chamava-se Charles Rosnan, havia sido assassinado naquela casa há 5 anos. Indicou o local onde seu corpo estava enterrado, o que posteriormente foi confirmado.
Os fenómenos de Hydesville, abriram a porta para muitos outros, que levou Conan Doyle a
considerá-los "Como a coisa mais importante que deu a América para o mundo."
Após os acontecimentos de Hydesville, tornou-se "a coqueluche da sociedade francesa", aquilo que ficou conhecido com o nome de Mesas Girantes.
Consistiam em mesas comuns, de madeira, de três pés, onde as pessoas se sentavam em torno para dialogarem com os Espíritos. Utilizando-se de recursos mediúnicos de uma ou mais das pessoas presentes, as entidades desencarnadas (espíritos), através de pancadas nas mesas ou movimentos, respondiam inteligentemente às perguntas dos curiosos.
Informam-nos os historiadores que nos anos de 1853 a 1855, as mesas girantes constituíam, em Paris, verdadeiros passatempos, sendo diversão quase obrigatória nas reuniões sociais.
Todavia, ninguém poderia imaginar que dessa brincadeira de salão brotaria o impulso inicial para a Codificação do Espiritismo.

1.4 - Allan Kardec
1.4.1 - O Homem
Na cidade de Lion, em França, nasceu no dia 3 de Outubro de l804, aquele que se celebrizaria sob o pseudónimo de Allan Kardec. De tradicional família francesa de magistrados e professores, filho de Jean Baptiste Antoine Rivail e Jeane Louise Duhamel, foi batizado com o nome de Hippolyte Léon Denizard Rivail.
Em Lion fez os seus primeiros estudos, seguindo depois para Yverdon, na Suíça, a fim de estudar no Instituto do célebre professor Pestalozzi. O instituto desse abalizado mestre era um dos mais famosos e respeitados em toda a Europa. Desde cedo Hippolyte Léon tornou-se um dos mais eminentes discípulos de Pestalozzi, estando inclusive, com a idade de 14 anos, ensinando aos condiscípulos menos adiantados, tudo o que aprendia.
Concluídos os estudos em Yverdon, regressou a Paris, onde se tornou conceituado mestre não só em Letras, como na Ciência, distinguindo-se como notável pedagogo e divulgador do Método Pestalozziano. Conhecia diversas línguas, entre elas o italiano e alemão, tendo traduzido várias obras para o francês. Contraiu matrimónio com a professora Amelie Gabrielle Boudet, conquistando nela uma preciosa colaboradora. O casal não teve filhos.
Como pedagogo, Rivail publicou numerosos livros didácticos. Apresenta na mesma época, planos e métodos referentes à reforma do ensino francês.
1.4.2 - O Codificador
Começa a missão de Allan Kardec quando, em 1854, ouviu falar pela primeira vez nas mesas girantes através do amigo Fortier, um pesquisador emérito do Magnetismo (Kardec a época interessava-se também pelo estudo desta ciência). Em princípio, Kardec revelou-se céptico, face à sua posição de livre pensador, de homem austero, sincero e observador. Exigindo provas, mostrou-se inclinado à observação mais profunda dos ruidosos factos amplamente divulgados pela imprensa francesa.
No ano seguinte, 1855, aceita o convite para assistir a uma sessão de mesas girantes, e vendo o fenómeno, interessa-se por este profundamente. Vê ali um fenómeno inusitado que deveria merecer um exame cuidadoso. Ele decide então, aos 51 anos de idade, estudar o fenómeno mediúnico. Passa a frequentar a residência de diversos médiuns, recebe cadernos contendo anotações de mensagens recebidas anteriormente, discute, analisa, apresenta questões de grande profundidade aos Espíritos, convencido que está da realidade do mundo extra físico.
O grande material estudado por ele, mais as centenas de questões propostas às Entidades Luminosas, deram condições ao professor Rivail de publicar a sua primeira obra, O Livro dos Espíritos, em 18 de Abril de 1857. Esta data passou a ser considerada como a de fundação do Espiritismo.
Decide adoptar o pseudónimo de Allan Kardec por dois motivos: primeiro para que o seu nome real, conhecidíssimo em Paris, não viesse a interferir na grandeza do livro, que segundo ele, deveria florescer pelo seu valor e, não pelo autor que o subscrevia. Segundo, em homenagem a uma existência que ele tivera nas Gálias, no primeiro século antes de Cristo, onde fora um sacerdote druida denominado Allan Kardec.
Fundou em l de Janeiro de 1858 a Revista Espírita, órgão mensal que deveria assumir um papel importantíssimo na divulgação da Doutrina, e no mesmo ano, no dia 1º de Abril, ele funda a primeira sociedade espírita com o nome de Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas. No dia 15 de Janeiro de
1861 lança O Livro dos Médiuns, e depois, sucessivamente, O Evangelho Segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno, e A Génese .
Kardec vem a deixar o mundo físico na manhã do dia 31 de Março de 1869, em função da ruptura de um aneurisma cardíaco.
1.5 - As Obras Básicas
O conteúdo das obras publicadas por Allan Kardec expõem e consolidam os princípios e os elementos constitutivos da Doutrina Espírita, em toda a sua totalidade, segundo o ensino dos Espíritos, sistematizados pelo codificador. Representam um património ético, científico e filosófico de valor incalculável, pois traduz o esforço concentrado de uma imensa falange de Espíritos sábios e bons, que sob a assistência amorosa de Jesus acompanharam o trabalho incansável de Allan Kardec.
Constituem, na realidade, o alicerce insuperável, através do qual informações outras, de autores recentes, vão sendo paulatinamente assimiladas.
Emmanuel, examinando a grandiosidade das obras básicas do Codificador assevera:
"Após dezanove séculos de teologia arbitrária, não chegaríamos a compreender o Evangelho e Jesus Cristo, sem Allan Kardec."
As obras básicas da Codificação são as seguintes por ordem cronológica de edição:
1. O Livro dos Espíritos - 18 de Abril de 1857
2. O Livro dos Médiuns - Janeiro de 1861
3. O Evangelho Segundo o Espiritismo - Abril de 1864
4. O Céu e o Inferno - 1865
5. A Génese, os milagres e as predições - Janeiro de 1868
Allan Kardec escreveu ainda dois outros livros de menor extensão: “O Que é o Espiritismo” e “O Principiante Espírita”, e no ano de 1890, P.G. Leymarie publica o livro Obras Póstumas, contendo artigos de Kardec ainda não conhecidos do público.
1.5.1 - O Livro dos Espíritos
A primeira obra publicada por Kardec é, na essência, um tratado de perguntas e respostas de carácter filosófico. Em 1019 itens, o Codificador apresenta os princípios basilares da Doutrina que, posteriormente, serão desenvolvidos nos outros livros.
Na primeira parte: o autor estuda as causas primárias, Deus, o espírito e a matéria. O princípio vital e da criação.
Na parte segunda: o Mundo dos Espíritos; a encarnação, a desencarnação, a missão e ocupação dos
Espíritos e seu inter- elacionamento com os homens.
A terceira parte tem um carácter eminentemente moral, pois Kardec vai examinar a Lei Natural, subdividida em dez Leis Morais que regem as relações humanas: Adoração, Trabalho, Reprodução, Conservação, Destruição, Sociedade, Progresso, Igualdade, Liberdade e Justiça, Amor e Caridade.
Na última parte, o codificador preocupa-se com as Esperanças e Consolações e a Lei de Causa e Efeito.
1.5.2 - O Livro dos Médiuns
O segundo livro, por ordem cronológica de lançamento, no seu frontispício, apresenta o subtítulo:
"Guia dos Médiuns e dos Evocadores" e resume o seu conteúdo assim:
"Ensino especial dos Espíritos sobre a teoria de todos os géneros de manifestações, os meios de comunicação com o mundo invisível, o desenvolvimento da mediunidade, as dificuldades e os tropeços que se podem encontrar na prática do Espiritismo."
O Livro dos Médiuns é considerado, ainda hoje, como o mais completo tratado de fenomenologia paranormal de todos os tempos, e, por esse motivo, é de leitura obrigatória a todos aqueles que trabalham na área mediúnica.
1.5.3 - O Evangelho Segundo o Espiritismo
Com esta obra, o Espiritismo vai assumir um carácter nitidamente religioso, pois Kardec se propõe a examinar cuidadosamente as diversas palavras do Cristo e as passagens mais significativas do Novo Testamento, no seu aspecto moral.
Em sua folha de rosto, lê-se a síntese do seu conteúdo:
"A explicação da máximas morais do Cristo em concordância com o Espiritismo e as suas aplicações às diversas circunstâncias da vida."
O seu estudo se desdobra em 28 capítulos de rara beleza e de profunda sabedoria.
1.5.4 - Céu e o Inferno
Este quarto livro tem como subtítulo "A Justiça Divina segundo o Espiritismo."
Na primeira parte: Céu, Inferno, Anjos e Demónios, e a Lei de Acção e Reacção mostrando as inúmeras nuances que cercam este princípio universal.
Na segunda parte, apresenta o Codificador mensagens de Espíritos desencarnados que se comunicaram na Sociedade Espírita de Paris.
1.5.5 - Génese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo.
Um ano antes da sua morte, Allan Kardec publicou seu último grande livro. Cabia-lhe interpretar o Antigo e o Novo Testamento segundo a ciência espírita. Nas primeiras linhas da introdução, escreveu:
"A nova obra constitui mais um passo à frente, nas consequências e nas aplicações do Espiritismo; tem por fim o estudo de três pontos que foram até hoje, diversamente interpretados e comentados: A Génese, os Milagres de Jesus e as predições encontradas nos Evangelhos."
1.6. Princípios básicos da Doutrina Espírita:
A força da Doutrina Espírita encontra-se nos seus princípios e na sua permanente possibilidade de comprovação. São eles: A existência de Deus;
A imortalidade;
A comunicabilidade dos espíritos;
A reencarnação e a evolução universal e infinita.
Cada um destes princípios será objecto de estudo nos próximos capítulos.

Bibliografia e referências
a) Allan Kardec (Volume I, II e III) - Zêus Wantuil e Francisco Thiesen
b) O Evangelho segundo o Espiritismo - Introdução - Allan Kardec
c) Obras Póstumas - Allan Kardec
d) As Mesas Girantes - Zêus Wantuil
e) A História do Espiritismo - Arthur Conan Doyle