quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

DESENVOLVIMENTO MEDIUNICO - RISCOS E ABUSOS

Fraudes – Conceito e Classificação

A significação do termo é: burla, logro, engano; pressupõe uma atitude pensada previamente com a finalidade de fazer parecer verdadeira uma coisa que é falsa.

Os que não admitem os fenômenos espíritas tendo como causa uma inteligência invisível, ou melhor, um espírito desencarnado, atribuem-lhe como causa a fraude. Mas, há que se considerar, que ninguém iria falsificar uma coisa que não existisse realmente. E ninguém frauda sem uma intenção de ganho, seja monetário, seja pessoal, etc.

As fraudes podem ser classificadas em dois grandes grupos:

1) Fraudes conscientes ou volitivas: aquelas que são de responsabilidade e conhecimento do médium, o qual simula um fenômeno com fins escusos.

2) Fraudes inconscientes: são simulações provocadas e dirigidas pela ação das mentes de espíritos desencarnados (obsessores) ou de encarnados (assistentes, experimentadores e médiuns). De qualquer forma, porém, o médium tem parte da responsabilidade porque se deixa trair por influências negativas.

Podemos considerar que as Fraudes conscientes podem ser produzidas por:

a) Falsos médiuns: os que visam lucros financeiros; tais como: prestidigitadores e espertalhões que exploram a ignorância daqueles que os procuram.

b) Verdadeiros médiuns: os que possuem a faculdade mediúnica, desconhecem a nobreza do mandato que lhe foi outorgado e não trepidam em "ajudar" a realização dos fenômenos, quando os Espíritos não comparecem ou estão demorando a agir.

As fraudes dizem respeito mais aos fenômenos físicos como materialização, transporte, etc. Porém o conhecimento do Espiritismo que explica com detalhes a mecânica dos fenômenos mediúnicos é a melhor defesa contra a fraude.

Em resumo, a melhor garantia contra a fraude está na moralidade dos médiuns e na ausência de todas as causas de interesse material ou de amor-próprio.

Ä Mistificações – Conceito e Classificação

Mistificar significa enganar; é o ato de embair, burlar da credulidade de alguém; ludibriar.

Podemos enquadrar as mistificações dentro de dois grupos:

1) Mistificações conscientes: aquelas em que o médium é responsável pelo fenômeno; a comunicação é de sua própria criação, podendo haver é claro, associação com espíritos gozadores que o inspirarão para que desempenhe melhor ainda o papel de "bufão" (sm. V. Bufo1: sm. 1. Ação de bufar. 2. Som que se produz bufando. Bufo2: Ator encarregado de fazer rir o público com mímicas, esgares, etc; bufão, truão).

2) Mistificações inconscientes – aquelas em que o médium é dirigido pelo próprio inconsciente ou por entidades malévolas que o colocam em situação até ridícula. São mensagens absurdas, mentirosas, vazias de conteúdo e de ensino moral; trazem a assinatura de nomes famosos ou de espíritos elevados, como André Luiz, Emmanuel, Bezerra de Menezes, Joanna de Angelis, etc.

As mistificações geralmente ocorrem nos fenômenos de natureza inteligente (psicofonia e psicografia).

Obs: As fraudes dizem respeito mais aos fenômenos físicos, e as mistificações mais aos fenômenos inteligentes.

O papel dos Espíritos não consiste em nos informar sobre as coisas deste mundo, mas nos guiar com segurança no que possa ser útil para o outro mundo.

A astúcia dos Espíritos mistificadores ultrapassa às vezes tudo o que se possa imaginar. Os meios que eles utilizam com mais freqüência são os que têm por fim a cobiça, como a revelação de tesouros ocultos e o anúncio de heranças. Devemos ainda tomar cuidado com as predições com épocas determinadas e nunca se deixar deslumbrar pelos nomes de pessoas famosas e de Espíritos elevados, desconfiando ainda das teorias e sistemas científicos ousados, etc.

Ä Contradições – Conceito e Tipos

É o fato de o ensino dos Espíritos em algumas partes não ser unitário e apresentar pontos de atritos, ou seja, divergências.

As contradições devem ser encaradas por dois ângulos:

1) Contradições devidas aos homens: Estas se devem ao fato dos homens terem eleito uma série de pontos de vista, de formas de entendimento que os caracterizam, por viverem em sociedade. Os espíritos como são atraídos por afinidades, ligam-se a agrupamentos que partilham das mesmas idéias. Em outros meios essas idéias poderão ser passíveis de críticas e ataques. Os Espíritos responsáveis pelo esclarecimento dos que ainda se acham em erro, somente aos poucos é que vão orientando-os, para não chocá-los.

2) Contradições devidas aos Espíritos: Estas se devem ao fato dos Espíritos estarem colocados no mundo espiritual em posições variáveis de entendimento, trazendo nas comunicações o cunho de sua ignorância ou do seu saber, da sua inferioridade ou da sua superioridade moral.

Cumpre não esquecermos que entre os Espíritos, há, como entre os homens, falsos sábios, orgulhosos, presunçosos e sistemáticos. Assim, as contradições de origem Espírita não derivam de outra causa, senão da diversidade, quanto à inteligência, aos conhecimentos, ao juízo e à moralidade, de alguns Espíritos que ainda não estão aptos a tudo conhecerem e a tudo compreenderem.

Ä Abusos no Exercício da Mediunidade

As características dos que abusam do exercício mediúnico são:

Acreditar-se privilegiado por possuir a faculdade.
Não atender às solicitações de estudo da Doutrina Espírita, achando-se que o guia espiritual ensina tudo.
Não ter horário para trabalhar mediunicamente, entregando-se à prática a qualquer hora, ocasião e local.
Fazer trabalhos mediúnicos habitualmente em casa domiciliar.
Cobrar monetária ou moralmente pelos bens que eventualmente possa obter pela faculdade mediúnica.
Assim, quem age dessa forma, mais cedo ou mais tarde, ver-se-á em situação lamentável.

Ä Perigos e Inconvenientes da Mediunidade

Não se pode negar que o Espiritismo, na sua parte prática, realmente oferece perigo aos imprudentes que, sem estudo e sem preparo, sem método adequado e sem proteção eficaz, se lançam a aventuras experimentais por passatempo ou frívola diversão, atraindo para si elementos inferiores do mundo invisível cuja influência maléfica fatalmente sofrerão.

No entanto, estes perigos, são por demais exagerados pelos detratores (v.t. Bras. V. detrair. – Detrair v.t. Dizer mal de; difamar, detratar (bras) da Doutrina Espírita, a fim de desestimular a aproximação do homem da fonte capaz de matar-lhe a sede de conhecimento acerca de seu destino futuro, terreno este que foi monopolizado pelas religiões tradicionalistas, as quais não suportam o mais leve exame da lógica e da razão.

Nenhum progresso, nenhum avanço, nenhuma descoberta se alcança sem esforço, sem sacrifícios e sem riscos. É injusto, porém, ressaltar os perigos da mediunidade sem assinalar os extraordinários benefícios que propicia, entre os quais a comprovação da imortalidade da alma.

Os riscos se empregam nas seguintes condições:

Para os que se lançam à experimentação por espírito de curiosidade e de frívola diversão.
Aos que fazem mal uso da mediunidade que pode trazer conseqüências desagradáveis, inclusive o perigo da obsessão.
Aos que desconhecem as leis psíquicas que regem os fenômenos mediúnicos expondo-se mais aos perigos.
Àqueles que atraem Espíritos inferiores com seu "hálito mental", pois este é resultante dos nossos sentimentos, pensamentos e ações, e através dele atraímos Espíritos de natureza mais ou menos elevada.
Deve-se ressaltar ainda que:

A faculdade mediúnica não causa a loucura. Mentes com predisposição, que fatalmente se desequilibrariam por qualquer motivo, devem evitar a prática mediúnica.
Nas crianças a mediunidade pode ser espontânea ou natural, mas mesmo nesse caso, deve-se evitar qualquer estimulação, devido aos prejuízos que poderá trazer à frágil mente infantil.
O médium é um ser nervoso, sensível, impressionável; tem de sentir-se envolto numa atmosfera de calma, de paz e benevolência, que só a presença dos Espíritos adiantados pode criar.
Serão benéficos, todo conhecimento adquirido pelo estudo e todo esforço realizado pelo aperfeiçoamento moral, sendo isso, o cumprimento dos nossos deveres perante a mediunidade.
A precaução que se deve tomar é a de viver de acordo com os ensinos morais do Evangelho de Jesus.

Ä Perda e suspensão da faculdade mediúnica

Todas as criaturas possuem a faculdade mediúnica, em maior ou menor grau, todavia, considera-se médium aquele que traz consigo uma tarefa a desempenhar no campo da mediunidade.

A mediunidade qualquer que ela seja deve ser encarada como uma missão que Deus oferece à criatura. Os que empregam a sua faculdade de modo errôneo ou de má vontade, são médiuns imperfeitos que desconhecem o valor da graça que receberam.

A mediunidade não e um privilégio, por isso, geralmente, os que mais necessitam são os que a possuem. Ela é concedida porque precisamos dela para nos melhorar, para ficarmos em condições de recebermos bons ensinamentos.

A suspensão da mediunidade é motivada por três causas:

1. Advertência - Objetiva provar ao médium que ele é um simples instrumento e que sem o concurso dos Espíritos nada faria. Geralmente ocorre quando o médium não está correspondendo às instruções dos Espíritos Superiores do ponto de vista moral e doutrinário.

2. Benevolência - Ocorre como um verdadeiro benefício ao médium por que evita que ele, quando debilitado por doença física, fique a mercê das entidades inferiores. Assim que volte ao seu estado normal e possa exercitá-la com eficiência a mediunidade retornará. Sendo assim, a interrupção da faculdade nem sempre é uma punição porque demonstra a afeição e solicitude do Espírito para com o médium.

3. Provação - O objetivo é o de desenvolver a paciência, a resignação e forçar o médium a meditar sobre o conteúdo das comunicações recebidas. Deve-se notar que a finalidade das comunicações é a de instruir as criaturas humanas de como devem se comportar na vida, a fim de evitar os percalços e deles saber tirar o bom resultado quando são inevitáveis.
No caso de não mais funcionar a faculdade mediúnica, não significa que o médium encerrou sua missão, porque toda missão encerrada com sucesso é prenuncio para nova tarefa.

Ä História de um médium

As observações interessantes sobre a Doutrina dos Espíritos sucediam-se umas às outras, quando um amigo nosso, velho lidador do Espiritismo, no Rio de Janeiro, acentuou, gravemente:

"— Em Espiritismo, uma das questões mais sérias é o problema do médium...

— Sob que prisma? – indagou um dos circunstantes.

— Quanto ao da necessidade de sua própria edificação para vencer o meio.

— Para esclarecer a minha observação — continuou o nosso amigo —, contar-lhes-ei a história de um companheiro dedicado, que desencarnou, há poucos anos, sob os efeitos de uma obsessão terrível e dolorosa

Todo o grupo, lembrando os hábitos antigos, como se ainda estacionássemos num ambiente terrestre, aguçou os ouvidos, colocando-se à escuta:

— Azarias Pacheco – começou o narrador – era um operário despreocupado e humilde do meu bairro, quando as forças do Alto chamaram o seu coração ao sacerdócio mediúnico. Moço e inteligente, trabalhava na administração dos serviços de uma oficina de consertos, ganhando, honradamente, a remuneração mensal de quatrocentos mil réis....

Em vista do seu espírito de compreensão geral da vida, o Espiritismo e a mediunidade lhe abriram um novo campo de estudos, a cujas atividades se entregou sob uma fascinação crescente e singular.

Azarias dedicou-se amorosamente à sua tarefa, e, nas horas de folga, atendia aos seus deveres mediúnicos com irrepreensível dedicação. Elevados mentores do Alto forneciam lições proveitosas, através de suas mãos. Médicos desencarnados atendiam, por ele, a volumoso receituário.

E não tardou que o seu nome fosse objeto de geral admiração.

Algumas notas de imprensa evidenciaram ainda mais os seus valores medianímicos e, em pouco tempo, sua residência humilde povoava-se de caçadores de anotações e de mensagens. Muitos deles diziam-se Espíritas confessos, outros eram crentes de meia-convicção ou curiosos do campo doutrinário.

O rapaz, que guardava sob a sua responsabilidade pessoal numerosas obrigações de família, começou a sacrificar primeiramente os deveres de ordem sentimental, subtraindo à esposa e aos filhinhos as horas que habitualmente lhes consagrava, na intimidade doméstica.

Quase sempre cercado de companheiros, restavam-lhe apenas as horas dedicadas à conquista de seu pão cotidiano, com vistas aos que o seguiam carinhosamente pelos caminhos da vida.

Havia muito tempo que perdurava semelhante situação, em fase de sua preciosa resistência espiritual, no cumprimento de seus deveres.

Dentro de sua relativa educação medianímica, Azarias encontrava facilidade para identificar a palavra de seu sábio e incansável guia, sempre a lhe advertir quanto à necessidade de oração e de vigilância.

Acontece, porém, que cada triunfo multiplicava as suas preocupações e os seus trabalhos.

Os seus admiradores não queriam saber das circunstâncias especiais de sua vida.

Grande parte exigia as suas vigílias pela noite adentro, em longas narrativas dispensáveis. Outros alegavam os seus direitos às exclusivas atenções do médium. Alguns acusavam-no de preferências injustas, manifestando o gracioso egoísmo de sua amizade, expressando o ciúme que lhes ia n’alma, em palavras carinhosas e alegres. Os grupos doutrinários disputavam-no.

Azarias verificou que a sua existência tomava um rumo diverso, mas os testemunhos de tantos afetos lhe eram sumamente agradáveis ao coração.

Sua fama corria sempre. Cada dia era portador de novas relações e novos conhecimentos.

Os centros importantes começaram a reclamar a sua presença e, de vez em quando, surpreendiam-no as oportunidades das viagens pelos caminhos de ferro, em face da generosidade dos amigos, com grandes reuniões de homenagens, no ponto de destino.

A cada instante, um admirador o assaltava:

— Azarias, onde trabalha você?...

— Numa oficina de consertos.

— Oh! Oh!... quanto ganha por mês?.

— Quatrocentos mil réis.

— Oh! Mais isso é um absurdo... Você não é criatura para um salário como esse! Isso é uma miséria!... .

Em seguida outros ajuntavam:

— O Azarias não pode ficar nessa situação. Precisamos arranjar-lhe coisa melhor no centro da cidade, com uma remuneração à altura de seus méritos, ou, então, podemos tentar-lhe uma colocação no serviço público, onde encontrará mais possibilidade de tempo para dedicar-se à missão... .

O pobre médium, todavia, dentro de sua capacidade de resistência, respondia:

— Ora, meus amigos, tudo está bem. Cada qual tem na vida o que mereceu da Providência Divina e, além de tudo precisamos considerar que o Espiritismo tem de ser propagado, antes do mais, pelos Espíritos e não pelos homens!... .

Azarias, contudo, se era médium, não deixava de ser humano.

Requisitado pelas exigências dos companheiros, já nem pensava no lar e começava a assinalar na sua ficha de serviços faltas numerosas.

A principio, algumas raras dedicações começaram a defendê-lo na oficina, considerando que, aos olhos dos chefes, suas faltas eram sempre mais graves que a dos outros colegas, em virtudes do renome que o cercava; mas, um dia, foi ele chamado ao gabinete de seu diretor, que o despediu nestes termos:

— Azarias, infelizmente não me é possível conservá-lo aqui, por mais tempo. Suas faltas no trabalho atingiram o máximo e a administração central resolveu eliminá-lo do quadro de nossos companheiros.

O interpelado saiu com certo desapontamento, mas lembrou-se das numerosas promessas dos amigos.

Naquele mesmo dia, buscou providenciar para uma nova colocação, mas, em cada tentativa, encontrava sempre um dos seus admiradores e conhecidos que obtemperava:

— Ora, Azarias, você precisa ter mais calma! Lembre-se de que a sua mediunidade é um patrimônio de nossa Doutrina... .

— Sossegue, homem de Deus!... Volte a casa e nós todos saberemos ajudá-lo neste transe.

Na mesma data ficou assentado que os amigos do médium se cotizariam, entre si, de modo que ele viesse a perceber uma contribuição mensal de seiscentos mil réis, ficando, desse modo, habilitado a viver tão somente para a Doutrina.

Azarias, sob a inspiração de seus mentores espirituais, vacilava ante a medida, mas à frente de sua imaginação estava os quadros do desemprego e das imperiosas necessidades da família.

Embora a sua relutância aceitou o alvitre.

Desde então, a sua casa foi o ponto de uma romaria interminável e sem precedentes. Dia e noite, seus consulentes estacionavam a porta. O médium buscava atender a todos como lhe era possível. As suas dificuldades, todavia, eram as mais prementes.

Ao cabo de seis meses, todos os seus amigos haviam esquecidos o sistema das cotas mensais.

Desorientado e desvalido, Azarias recebeu os primeiros dez mil réis, que uma senhora lhe ofereceu após o receituário. No seu coração, houve um toque de alarme, mas o seu organismo estava enfraquecido. A esposa e os filhos estavam repletos de necessidades.

Era tarde para procurar, novamente, a fonte do trabalho. Sua residência era objeto de uma perseguição tenaz e implacável. E ele continuou recebendo.

Os mais sérios distúrbios íntimos lhe inquietavam o coração, mas o médium sentia-se obrigado a aceitar as injunções de quantos o procuravam levianamente.

Espíritos enganadores aproveitaram-se de suas vacilações e encheram-lhe o campo mediúnico de aberrações e descontroles.

Se as suas ações eram agora remuneradas e se delas dependia o pão dos seus, Azarias se sentia na obrigação de prometer coisa, quando os Espíritos não o fizessem. Procurado para a felicidade no dinheiro, ou êxito nos negócios ou nas atrações do amor do mundo, o médium prometia sempre as melhores realizações, em troca dos míseros mil réis da consulta.

Entregue a esse gênero de especulações, não mais pode receber o pensamento dos seus protetores espirituais mais dedicados.

Experimentando toda sorte de sofrimentos e de humilhações, se chegava a queixar-se, de leve, havia sempre um cliente que lhe observava:

— Que é isso, "seu" Azarias?... O senhor não é médium? Um médium não sofre essas coisas!...

Se alegava cansaço, outro objetava, de pronto, ansioso pela satisfação de seus caprichos:

— E a sua missão, "seu" Azarias?...

— Não se esqueça da caridade!...

E o médium, na sua profunda fadiga espiritual, concentrava-se, em vão, experimentando uma sensação de angustioso abandono, por parte dos seus mentores dos planos elevados.

Os mesmos amigos da véspera piscavam, então, os olhos, falando, em voz baixa, após as despedidas:

— Você já notou que o Azarias perdeu de todo a mediunidade?... — dizia um deles.

— Ora, isso era esperado — redargüia-se —, desde que ele abandonou o trabalho para viver à custa do Espiritismo, não podíamos aguardar outra coisa.

— Além disso – exclamava outro do grupo —, todos os vizinhos comentam a sua indiferença à família, mas, de minha parte, sempre vi no Azarias um grande obsidiado.

— O pobre do Azarias perverteu-se — falava ainda um companheiro mais exaltado – e um médium nessas condições é um fracasso para a própria Doutrina...

— É por essa razão que o Espiritismo é tão incompreendido! – Sentenciava ainda outro. — Devemos tudo isso aos maus médiuns, que envergonham os nossos princípios."

Cada um foi esquecendo o médium, com a sua definição e a sua falta de caridade. A própria família o abandonou à sua sorte, tão logo haviam cessado as remunerações.

Escarnecido em seus afetos mais caros, Azarias tornou-se um revoltado.

Essa circunstância foi a última porta para o livre ingresso das entidades perversas que se assenhorearam de sua vida.

O pobre náufrago da mediunidade perambulou na crônica dos noticiários, rodeado de observações ingratas e de escandalosos apontamentos, até que um leito de hospital lhe concedeu a bênção da morte...

O narrador estava visivelmente emocionado, rememorando as suas antigas lembranças.

— Então, quer dizer, meu amigo — observou um de nós —, que a perseguição da polícia ou a perseguição do padre não são os maiores inimigos da mediunidade..."

— De modo algum — replicou ele, convicto — O padre e a polícia podem até ser os portadores de grandes bens.

E, fixando em nós outros o seu olhar percuciente e calmo, rematou a sua história, sentenciando gravemente:

— O maior inimigo dos médiuns está dentro de nossos próprios muros!..."

(Recebido pelo médium Francisco Cândido Xavier, em 29 de abril de 1939)



Bibliografia:

Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita. Programa V, Roteiro nº 26. FEB.
Kardec, Allan. O Livro dos Médiuns. Cap. XVII, Da Formação dos Médiuns. Cap. XVIII, Dos Inconvenientes e Perigos da Mediunidade.
Apostila do COEM (Centro de Orientação e Educação Mediúnica, Do Centro Espírita "Luz Eterna". Curitiba).
Nº 04 – 10a, 11a, 12a Sessão Teórica.
Xavier, Francisco Cândido. In: Novas Mensagens. História de um médium. Rio de Janeiro: FEB, 1978. p.39-48

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